Depois levantou-se e pegou no chapéu e nas luvas.
- Ah! Tudo o que me disse é bem verdade, não é? Posso acreditar inteiramente nas suas palavras? - perguntou ainda.
- Olhe, Sr. Abade - respondeu Caderousse - aqui tem ao canto desta parede um Cristo de madeira benzida, e em cima deste baú o livro dos Evangelhos da minha mulher. Abra o livro e jurarei sobre ele, com a mão estendida para o crucifixo, pela salvação da minha alma e pela minha fé de cristão, que lhe contei tudo como realmente se passou e como o anjo dos homens lhe contará ao ouvido de Deus no dia do Juízo Final!
- Está bem - disse o abade - convencido pelo seu tom de que Caderousse dizia a verdade. - Está bem, que esse dinheiro lhe aproveite! Adeus, volto para longe dos homens, que tanto mal fazem uns aos outros.
Esquivando-se com grande dificuldade aos entusiásticos agradecimentos de Caderousse, o abade retirou pessoalmente a tranca da porta, saiu, montou a cavalo, cumprimentou pela última vez o estalajadeiro, que se confundia em despedidas ruidosas, e partiu na mesma direcção em que viera.
Quando se virou, Caderousse viu atrás de si a Carconte, mais pálida e trémula do que nunca.
- É bem verdade o que ouvi? - perguntou ela.
- O quê? Que nos dava o diamante só para nós? - redarguiu Caderousse, quase louco de alegria.
- Sim.
- Nada mais verdadeiro, porque... ei-lo! A mulher olhou-o um instante. Depois, perguntou em voz abafada:
- E se é falso? Caderousse empalideceu e cambaleou.
- Falso - murmurou -, falso... E por que motivo me daria esse homem um diamante falso?
- Para saber o teu segredo sem o pagar, imbecil! Caderousse ficou um instante aturdido sob o peso desta hipótese.
- Oh - disse passado um instante, pegando no chapéu que colocou por cima do lenço encarnado atado à volta da cabeça -, vamos já sabê-lo!
- Como?
- Hoje é dia de feira em Beaucaire e estão lá joalheiros de Paris. Vou mostrar-lho. Tu, mulher, guarda a casa. Dentro de duas horas estarei de volta.
E Caderousse correu para fora de casa e meteu, sempre correndo, pela estrada oposta à que pouco antes tomara o desconhecido.
- Cinquenta mil francos! - murmurou a Carconte a sós. - É dinheiro... mas não é uma fortuna.