O Conde de Monte Cristo - Cap. 4: A Conspiração Pág. 23 / 1080

Capítulo IV - A Conspiração

Danglars seguiu Edmond e Mercédès com a vista até os dois namorados desaparecerem numa das esquinas do Forte de S. Nicolau.

Depois virou-se e olhou para Fernand, que se deixara cair, pálido e fremente, na sua cadeira, enquanto Caderousse balbuciava a letra de uma canção báquica.

- Ora aí está, meu caro senhor - disse Danglars a Fernand um casamento que me não parece fazer a felicidade de toda a gente...

- A mim desespera-me - confessou Fernand.

- Quer dizer que ama Mercédès?

- Adoro-a!

- Há muito tempo?

- Sempre a amei, desde que nos conhecemos.

- E está para aí a arrepelar os cabelos em vez de procurar remédio para o caso! Que diabo, não julgava que as pessoas da sua nação procedessem assim!

- Que quer que faça? - perguntou Fernand.

- Sei lá! Porventura o caso me diz respeito? Não sou eu, parece-me que estou apaixonado por Mademoiselle Mercédès, mas sim o senhor. Procurai, diz o Evangelho, e encontrareis.

- Já encontrei.

- O quê?

- Desejaria apunhalar o «homem», mas a mulher disse-me que se acontecesse alguma coisa ao noivo se mataria.

- Ora, ora! Essas coisas dizem-se, mas não se fazem!

- Não conhece Mercédès, senhor: desde o momento que ameaçou, cumpriria a sua ameaça.

- Imbecil! - murmurou Danglars. - Quero lá saber que se mate ou não, contanto que Dantès não seja comandante.

- E antes de Mercédès morrer - prosseguiu Fernand em tom de firme decisão -, morreria eu.

- O que é o amor! - exclamou Caderousse em voz cada vez mais avinhada. - Se isso não é amor, já não sei quem sou!

- Vejamos - disse Danglars -, o senhor parece-me um rapaz simpático e diabos me levem se não gostaria de o ajudar; mas...

- Sim - disse Caderousse -, vejamos...

- Meu caro - prosseguiu Danglars -, estás três quartos bêbedo; acaba a garrafa e ficá-lo-ás por completo. Bebe e não te metas no que fazemos, porque para o fazer é preciso ter a cabeça bem no seu lugar.

- Eu bêbedo? - protestou Caderousse. - Ora essa! Fica sabendo que era capaz de beber mais quatro das tuas garrafas, que não são maiores do que frascos de água-de-colónia! Tio Pamphile, vinho.

E juntando o gesto à palavra, Caderousse bateu com o copo na mesa.

- Dizia então, senhor?... - disse Fernand, esperando com avidez o seguimento da frase interrompida.

- Que dizia eu? Já me não lembro. Este bêbedo do Caderousse fez-me perder o fio dos meus pensamentos.

- Sou tão bêbedo como tu. Tanto pior para aqueles que têm medo do vinho. É porque têm algum mau pensamento que receiam que o vinho lhes descubra.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069