O Conde de Monte Cristo - Cap. 28: Os registos das prisões Pág. 230 / 1080

- Bom, senhor, fui educado em Roma pelo pobre diabo de um abade que desapareceu de súbito. Soube mais tarde que estivera detido no Castelo de If e desejaria conhecer alguns pormenores acerca da sua morte.

- Como se chamava?

- Abade Faria.

- Oh, lembro-me perfeitamente dele! - exclamou o Sr. De Boville. - Estava louco.

- Dizia-se.

- Oh, estava-o, sem dúvida nenhuma!

- É possível. E qual era o seu género de loucura?

- Pretendia saber da existência de um tesouro imenso e oferecia importâncias astronómicas ao Governo se o pusessem liberdade.

- Pobre diabo! Morreu?

- Sim, senhor, há cinco ou seis meses pouco mais ou menos, em Fevereiro último.

- Possui uma excelente memória, senhor, para se lembrar assim das datas.

-Lembro-me desta porque a morte do pobre diabo foi acompanhada de uma circunstância singular.

- Pode-se saber qual? - perguntou o inglês com uma expressão de curiosidade de um observador profundo se admiraria de encontrar em rosto tão fleumático.

- Oh, meu Deus, claro que sim, senhor! A cela do abade ficava distante quarenta e cinco a cinquenta pés, aproximadamente, da de um antigo agente bonapartista, um dos que mais tinham contribuído para o regresso do usurpador em 1815, homem muito resoluto e perigoso.

- Deveras? - disse o inglês.

- Sim - respondeu o Sr. de Boville. - Eu próprio tive a oportunidade de ver esse homem em 1816 ou 1817 e só se descia à sua cela com um piquete de soldados. Esse homem causou-me profunda impressão e nunca esquecerei a sua cara.

O inglês sorriu imperceptivelmente.

- Mas dizia, senhor - atalhou -, que as duas celas...

- Estavam separadas por uma distância de cinquenta pés. Mas parece que Edmond Dantès...

- Esse homem perigoso chamava-se?...

- Edmond Dantès. Sim, senhor, parece que Edmond Dantès arranjara ferramentas ou fabricara-as, porque se encontrou uma galeria através da qual os prisioneiros comunicavam um com o outro.

- Essa galeria fora sem dúvida praticada com uma finalidade de evasão?

- Exacto. Mas infelizmente para os prisioneiros o abade Faria teve um ataque de catalepsia e morreu.

- Compreendo. Isso deve ter frustrado os planos de evasão.

- Quanto ao morto, sim - respondeu o Sr. de Boville. – Mas quanto ao vivo, não. Pelo contrário, Dantès viu nisso um meio de antecipar a sua fuga. Pensava sem dúvida que os prisioneiros que morriam no Castelo de If eram enterrados num cemitério vulgar. Por isso, levou o defunto para a sua cela, tomou o lugar dele no saco onde fora encerrado e esperou o momento do funeral.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069