O Conde de Monte Cristo - Cap. 28: Os registos das prisões Pág. 232 / 1080

O inglês encontrou facilmente o processo relativo ao abade Faria. Mas parece que a história que lhe contara o Sr. de Boville o interessava vivamente, porque depois de tomar conhecimento das primeiras peças continuou a folhear até chegar ao processo de Edmond Dantès. Encontrou aí cada coisa no seu lugar: denúncia, interrogatório, petição de Morrel e despacho do Sr. de Villefort. Dobrou muito devagarinho a denúncia e meteu-a na algibeira. Leu o interrogatório e verificou que o nome de Noirtier não era mencionado nele; percorreu a petição de 10 de Abril de 1815, em que Morrel, de acordo com o conselho do substituto, exagerava com excelente intenção, visto Napoleão reinar então, os serviços que Dantès prestara à causa imperial, serviços que o certificado de Villefort tornava incontestáveis, e compreendeu tudo: aquela petição dirigida a Napoleão e guardada por Villefort tornara-se depois da II Restauração uma arma terrível nas mãos do procurador régio. Não estranhou portanto, ao folhear o registo, encontrar esta nota aposta ao seu nome: edmond dantès: Bonapartista fanático, tomou parte activa no regresso da ilha de Elba. Manter no maior segredo e sob a mais rigorosa vigilância.

Por baixo destas linhas estava escrito com outra letra: «Em vista da nota supra, nada a fazer.»

No entanto, comparando a letra da nota com a do certificado escrito por baixo da petição de Morrel, adquiriu a certeza de que a nota fora escrita pela mesma pessoa que escrevera o certificado, ou seja, por Villefort.

Quanto à segunda nota, o inglês deduziu que fora escrita por algum inspector que tomara interesse passageiro pela situação de Dantès, mas que a recomendação da primeira colocara na impossibilidade de dar seguimento a esse interesse.

Como dissemos, o inspector, por descrição e para não incomodar o pupilo do abade Faria nas suas investigações, afastara-se e lia Le Drapeau blanc. Não viu portanto o inglês dobrar e meter na algibeira a denúncia escrita por Danglars debaixo do caramanchão da Reserva, que tinha o carimbo dos correios de Marselha, com a data de 27 de Fevereiro e a hora de tiragem das 6 da tarde.

Mas, devemos dizê-lo, mesmo que o tivesse visto ligava tão pouca importância àquele papel e tanta aos seus duzentos mil francos que se não oporia ao que fizesse o inglês, por mais incorrecto que fosse.

- Obrigado - disse este fechando ruidosamente o registo. - Já tenho aquilo de que precisava. Agora compete-me cumprir a minha promessa. Faça-me uma simples transferência do seu crédito, em que declare ter recebido o seu montante. Vou entregar-lhe o dinheiro.

Cedeu o seu lugar à secretária ao Sr. de Boville, que se sentou sem hesitar e se apressou a fazer a transferência pedida, enquanto o inglês contava as notas de banco a um canto da papeleira.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069