O Conde de Monte Cristo - Cap. 29: Acasa Morrel Pág. 242 / 1080

Penelon, que ficara sem fôlego, quase engoliu o rolo de tabaco.

Felizmente, levou a tempo a mão à garganta.

- Como, Sr. Morrel? - disse com voz estrangulada. - Como, o senhor despede-nos?! Isso quer dizer que não está satisfeito connosco?

- Não, meus filhos - respondeu o armador. - Não estou descontente com vocês, muito pelo contrário, nem os despeço.

Mas que querem, já não tenho navios e portanto já não necessito de marinheiros.

- Como é que já não tem navios? - replicou Penelon. – Pois mandará construir outros e nós esperaremos! Graças a Deus, sabemos o que é navegar de bolina.

- Já não tenho dinheiro para mandar construir navios, Penelon -confessou o armador com um sorriso triste. - Não posso portanto aceitar essa resposta, por mais generosa que seja.

- Pois bem, se não tem dinheiro escusa de nos pagar. Faremos como o pobre Pharaon, correremos em árvore seca e pronto!

- Basta, basta, meus amigos - pediu Morrel, sufocado de emoção. - Vão, peço-lhes. Voltaremos a encontrar-nos em tempos melhores. Emmanuel - acrescentou o armador -, acompanhe-os e providencie para que os meus desejos sejam satisfeitos.

- Pelo menos até breve, não é verdade, Sr. Morrel? – disse Penelon

- Sim, meus amigos. Pelo menos assim espero. Vão.

E fez um sinal a Coclès, que saiu à frente. Os marinheiros seguiram o tesoureiro e Emmanuel seguiu os marinheiros.

- Agora - disse o armador à mulher e à filha -, deixem-me só um instante. Tenho de conversar com este senhor.

E indicou com os olhos o mandatário da casa de Thomson & French, que permanecera de pé e imóvel no seu canto durante toda a cena, na qual apenas participara com as poucas palavras que reproduzimos. As duas mulheres ergueram os olhos para o estrangeiro, que tinham esquecido por completo, e retiraram-se. Mas ao sair a jovem lançou ao visitante um sublime olhar de súplica a que ele respondeu com um sorriso que um observador frio se admiraria de ver desabrochar naquele rosto de gelo. Os dois homens ficaram sós.

- Pronto, senhor! - disse Morrel, voltando a deixar-se cair na poltrona. - Viu tudo, ouviu tudo, não tenho mais nada a dizer-lhe.

- Vi, senhor - redarguiu o inglês -, que foi vítima de uma nova desgraça, tão imerecida como as outras, e isso reforçou o desejo que já tinha de lhe ser agradável.

- Oh, senhor! - exclamou Morrel.

- Vejamos - continuou o estrangeiro. - Sou um dos seus principais credores, não é verdade?

- É pelo menos o que possui os valores a mais curto prazo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069