O Conde de Monte Cristo - Cap. 30: O 5 de Stembro Pág. 249 / 1080

Julie recordou-se da recomendação de Emmanuel e quis acompanhar o pai quando este saiu. Mas ele repeliu-a com doçura e disse-lhe.

- Fica com a tua mãe.

Julie quis insistir.

- Quero que fiques! - atalhou Morrel.

Era a primeira vez que Morrel dizia à filha: «Quero!», mas disse-o em tom impregnado de tão paternal doçura que Julie não ousou dar um passo em frente.

Ficou onde estava, de pé, muda e imóvel. Pouco depois a porta abriu-se e a jovem sentiu dois braços rodearem-na e uma boca colar-se-lhe à testa.

Ergueu os olhos e soltou uma exclamação de alegria.

- Maximilien, meu irmão! Ao ouvir este grito a Sr.ª Morrel acorreu e lançou-se nos braços do filho.

- Minha mãe - disse o rapaz, olhando ora para a Sr.ª Morrel, ora para a irmã. - Que aconteceu? A vossa carta assustou-me e vim imediatamente.

- Julie - disse a Sr.ª Morrel, fazendo sinal ao rapaz para esperar -, vai dizer ao teu pai que Maximilien acaba de chegar.

A jovem correu para fora do apartamento, mas encontrou no primeiro degrau da escada um homem com uma carta na mão.

- É Mademoiselle Julie Morrel? - perguntou o homem com um sotaque italiano deveras pronunciado.

- Sou, sim, senhor - respondeu Julie balbuciante. - Que me quer? Não o conheço...

-Leia esta carta - disse o homem, estendendo-lha.

Julie hesitava.

- Está nela a salvação do seu pai - acrescentou o mensageiro.

A rapariga arrancou-lhe a carta da mão.

Em seguida abriu-a rapidamente e leu: Vá imediatamente às Alamedas de Meilhan, entre no prédio n.º 15, peça à porteira a chave do quarto do quinto andar, entre nesse quarto, pegue numa bolsa de rede de seda encarnada que está ao canto da chaminé e leve-a ao seu pai.

É importante que ele a receba antes das onze horas.

Prometeu obedecer-me cegamente, lembro-lhe a sua promessa.

SIMBAD, O MARINHEIRO

A jovem soltou um grito de alegria, levantou os olhos e procurou, para o interrogar, o homem que lhe entregara a carta, mas ele desaparecera.

Voltou então a olhar para a carta, a fim de a ler segunda vez, e descobriu que tinha um pós-escrito. Leu-o:

É importante que desempenhe esta missão pessoalmente e sozinha. Se fosse acompanhada ou mandasse outra pessoa, a porteira responderia que não sabia que queriam dizer.

Este pós-escrito diminuiu consideravelmente a alegria da rapariga. Não teria nada a temer? Não quereriam armar-lhe alguma cilada? A sua inocência fazia-a ignorar quais eram os perigos que podia correr uma rapariga da sua idade, mas ninguém precisa de conhecer o perigo para ter medo. Deve-se até notar que são precisamente os perigos desconhecidos aqueles que inspiram os maiores terrores.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069