Julie hesitava e resolveu pedir conselho.
Mas, por um sentimento estranho, não foi nem à mãe nem ao irmão que recorreu, foi a Emmanuel.
Desceu e contou-lhe o que lhe acontecera no dia em que o mandatário da casa Thomson & French viera procurar o pai.
Contou-lhe a cena da escada, revelou-lhe a promessa que lhe fizera e mostrou-lhe a carta.
- Deve lá ir, menina - disse Emmanuel.
- Acha? - murmurou Julie.
- Acho. Acompanhá-la-ei
- Mas não vê que devo ir sozinha? - observou Julie.
- Irá sozinha - respondeu o rapaz. - Esperá-la-ei à esquina da Rua do Museu e se a sua demora começar a preocupar-me irei procurá-la e ai daquele ou daqueles de que me disser ter razão de queixa!
- Assim, Emmanuel - perguntou hesitante a rapariga -, acha que devo fazer o que me indicam?
- Acho. O mensageiro não lhe disse que ia nisso a salvação do seu pai?
- Mas, Emmanuel, que perigo corre ele? - perguntou a rapariga.
Emmanuel hesitou um instante, mas o desejo de decidir Julie sem delongas levou a melhor.
- Ouça, hoje são 5 de Setembro, não é verdade?
- São.
- Pois hoje às onze horas o seu pai tem de pagar cerca de trezentos mil francos.
- Pois tem, bem o sabemos.
- Mas não tem nem quinze mil em caixa! - disse Emmanuel.
- Então, que vai acontecer? - Vai acontecer que se hoje, antes das onze horas, o seu pai não encontrar alguém que o ajude, ao meio-dia será obrigado a declarar-se falido.
- Oh, venha, venha! - gritou a rapariga, arrastando o rapaz consigo.
Entretanto, a Sr.ª Morrel contara tudo ao filho.
O jovem sabia bem que em consequência das sucessivas desgraças que tinham acontecido ao pai haviam sido feitos grandes cortes nas despesas da casa, mas ignorava que as coisas tivessem chegado a tal ponto. Ficou aniquilado.
Depois, de repente, correu para fora do apartamento e subiu rapidamente a escada, porque julgava o pai no gabinete, mas bateu em vão.
Junto da porta do gabinete ouviu a do apartamento abrir-se, virou-se e viu o pai. Em vez de subir direito ao seu gabinete,o Sr. Morrel entrara no seu quarto, do qual saía apenas naquele momento.
O Sr. Morrel soltou um grito de surpresa ao ver Maximilien, pois ignorava a chegada do rapaz. Ficou imóvel onde estava, apertando com o braço esquerdo um objecto que tinha escondido debaixo da sobrecasaca.