O Conde de Monte Cristo - Cap. 31: Itália - Simbad, o marinheiro Pág. 269 / 1080

Mas o que surpreendeu Franz, que classificara de sonho a descrição de Gaetano, foi a sumptuosidade do mobiliário.

Toda a sala estava forrada de tecidos turcos de cor carmesim e recamados de flores douradas. Num recanto via-se uma espécie de divã encimado por uma panóplia de armas árabes de bainhas de prata dourada e punhos resplandecentes de pedrarias. Do tecto pendia um candeeiro de cristal de Veneza, de formato e cor encantadores, e os pés repousavam num tapete turco em que se enterravam até aos tornozelos. Pendiam reposteiros diante da porta por onde Franz entrara, bem como diante doutra que dava passagem para segunda sala que parecia esplendidamente iluminada.

O anfitrião deixou por instantes Franz entregue à sua surpresa, ao mesmo tempo que, retribuindo-lhe exame com exame, não lhe tirava os olhos de cima.

- Senhor - disse-lhe por fim -, mil vezes perdão pelas precauções que lhe exigiram para o introduzir junto de mim. Mas como durante a maior parte do tempo esta ilha está deserta, se o segredo desta residência fosse conhecido encontraria sem dúvida, ao regressar, a minha instalação em bastante mau estado, o que seria muito desagradável, não pelo prejuízo que me causaria, mas sim porque não teria a certeza de poder, quando me apetecesse, isolar-me do resto do mundo. Agora, vou procurar fazer-lhe esquecer essa pequena contrariedade oferecendo-lhe o que de certo não esperaria encontrar aqui: uma ceia menos má e camas bastante boas.

- Garanto-lhe, meu caro anfitrião - respondeu Franz -, que escusa de se desculpar por isso. Sempre vi vendar os olhos às pessoas que penetravam nos palácios encantados. Veja, por exemplo, Raul, nos Huguenotes. Realmente, não tenho de que me queixar, porque o que me mostra compete com as maravilhas das Mil e Uma Noites.

- Não exagere! Dir-lhe-ei como Lúculo: se soubesse que ia ter a honra da sua visita, ter-me-ia preparado para ela. Mas enfim, tal como é o meu eremitério, coloco-o à sua disposição, e tal como é a minha ceia, assim lha ofereço. Ali, estamos servidos? Quase no mesmo instante o reposteiro levantou-se e um negro núbio, preto como o ébano e envergando uma simples túnica branca, fez sinal ao amo de que podia entrar na sala de jantar.

- Agora - disse o desconhecido a Franz -, não sei se é da minha opinião, mas parece-me que não há nada mais constrangedor do que ficarmos duas ou três horas em amena conversa sem um e outro sabermos por que nome ou por que título nos tratamos. Note que respeito demasiado as leis da hospitalidade para lhe perguntar o seu nome ou o seu título. Peço-lhe apenas que me indique um nome qualquer com a ajuda do qual lhe possa dirigir a palavra.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069