- Continue, mestre Pastrini - interveio Franz, sorrindo da susceptibilidade do amigo. - E a que classe da sociedade pertencia?
- Era um simples pastorinho ligado à quinta do conde de San- Felice, situada entre a Palestrina e o lago de Gabri. Nascera em Pampinara e entrara aos cinco anos de idade ao serviço do conde. O pai, que também era pastor em Anagni, tinha um rebanhozito e vivia da lã dos seus carneiros e da venda do leite das suas ovelhas, que vinha negociar a Roma.
»Ainda criança, o pequeno Vampa já tinha um carácter estranho. Um dia, contava sete anos, procurou o pároco de Palestrina e pediu-lhe que o ensinasse a ler. Era coisa difícil, porque o jovem pastor não podia abandonar o rebanho. Mas o bom do pároco ia todos os dias dizer missa numa pobre aldeola, muito pouco considerável para pagar a um padre, e que como nem sequer tinha nome era conhecida pelo de Borgo. O padre propôs a Luigi que se encontrasse com ele no caminho à hora do seu regresso. Dar-lhe-ia assim a lição, mas preveniu-o de que a lição seria curta e de que deveria por consequência aproveitá-la. O garoto aceitou com alegria.
»todos os dias, Luigi levava o rebanho a pastar no caminho de Palestrina ao Borgo; todos os dias às nove da manhã o pároco passava, o padre e o garoto sentavam-se à beira de uma vala e o pastorinho dava a sua lição pelo breviário do sacerdote.
»Passados três meses sabia ler.
»Mas isso não bastava; precisava agora de aprender a escrever.
»O padre mandou fazer a um professor de caligrafia de Roma três abecedários: um grande, um médio e um pequeno, e mostrou-lhe que copiando o abecedário numa ardósia com uma pena de ferro poderia aprender a escrever.
»Nessa mesma tarde, quando o rebanho regressou à quinta, o pequeno Vampa, correu à oficina do ferreiro de Palestrina, pegou num grande prego, forjou-o, martelou-o, arredondou-o e transformou-o numa espécie de estilete antigo.
»No dia seguinte reuniu uma provisão de ardósia e meteu mãos à obra.
»Passados três meses sabia escrever.
»O pároco, atónico com aquela profunda inteligência e impressionado com semelhante aptidão, ofereceu-lhe diversos cadernos de papel, um pacote de penas e um canivete.
»Foi uma nova aprendizagem, mas uma aprendizagem que não era nada comparada com a primeira. Passados oito dias, manejava a pena como manejava o estilete.
»O pároco contou o caso ao conde de San- Felice, que quis ver o pastorinho, o mandou ler e escrever na sua presença, ordenou ao intendente que o mandasse comer com os criados e deu-lhes duas piastras por mês.