O Conde de Monte Cristo - Cap. 5: O banquete de noivado Pág. 30 / 1080

Assim que os noivos e aqueles que os acompanhavam chegaram à vista da Réserve, o Sr. Morrel desceu e foi por sua vez ao encontro deles, seguido dos marinheiros e dos soldados com que ficara e aos quais renovara a promessa já feita a Dantès deque este sucederia ao comandante Leclère. Ao vê-lo chegar, Edmond largou o braço da noiva e passou-o para o do Sr. Morrel. O armador e a jovem deram então o exemplo e subiram à frente a escada de madeira que levava à sala onde o banquete estava servido e que rangeu durante cinco minutos sob os passos pesados dos convivas.

- Meu pai - disse Mercédès, parando a meio da mesa e dirigindo-se ao velho Dantès -, fique à minha direita, peço-lhe. Quanto à minha esquerda reservo-a para aquele que me serviu de irmão - declarou com uma doçura que penetrou profundamente no coração de Fernand como uma punhalada.

Os seus lábios empalideceram e sob o tom bistrado do seu rosto desagradável foi possível ver mais uma vez o sangue desaparecer pouco a pouco para afluir ao coração.

Entretanto, Dantès executara a mesma manobra: à sua direita colocara o Sr. Morrel: à sua esquerda, Danglars. Depois, com a mão, fizera sinal a todos para se sentarem onde quisessem.

Pouco depois corriam à volta da mesa os salsichões de Arles, de carne bem curada e aroma acentuado: as lagostas de carapaça fascinante; as palurdas de concha rosada; os ouriços-do-mar, que parecem castanhas no seu invólucro espinhoso; as amêijoas, que têm a pretensão de substituir com vantagem, na opinião dos gastrónomos do Meio- Dia, as ostras do Norte; enfim, todos esses acepipes delicados que as vagas lançam nas margens arenosas e que os pescadores reconhecidos designam pelo nome genérico de mariscos.

- Que estranho silêncio! - observou o velhote, saboreando um copo de vinho dourado como o topázio que o Tio Pamphile em pessoa acabava de colocar diante de Mercédès. - Dir-se-ia que não estão aqui trinta pessoas que só desejam rir...

- Eh, um marido nem sempre está alegre! - exclamou Caderousse.

- A verdade - confessou Dantès - é que me sinto neste momento demasiado feliz para estar alegre. Se é isto que quer dizer, vizinho, tem razão. A alegria causa às vezes um efeito estranho, oprime como a dor.

Danglars observou Fernand, cuja natureza impressionável absorvia e refletia todas as emoções.

- Então, ainda receia alguma coisa? - perguntou a Dantès. - Parece-me, pelo contrário, que tudo corre de acordo com os seus desejos!

- É precisamente isso que me assusta - respondeu Dantès. Parece- me que o homem não nasceu para ser tão facilmente feliz! A felicidade é como esses palácios das ilhas encantadas que têm as portas guardadas por dragões.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069