O Conde de Monte Cristo - Cap. 36: O Carnaval de Roma Pág. 340 / 1080

Capítulo XXXVI - O Carnaval de Roma

Quando voltou a si, Franz encontrou Albert a beber um copo de água. A sua palidez indicava que necessitava muito daquele lenitivo. Quanto ao conde, vestia já o seu traje de palhaço.

Franz olhou maquinalmente para a praça: tudo desaparecera, cadafalso, carrasco e vítima, e só restava o povo, barulhento, irrequieto, alegre. O sino do Monte Citorio, que só tocava por morte do papa e pela abertura da mascherata, tocava desabaladamente.

- Então - perguntou ao conde -, que aconteceu?

- Nada, absolutamente nada, como vê. Apenas começou o Carnaval; vistamo-nos depressa.

- De facto - observou Franz ao conde -, de toda aquela horrível cena só resta o vestígio de um sonho.

- Porque não passou tudo de um sonho, de um pesadelo que o senhor teve.

- Eu, sim; mas o condenado?

- Foi um sonho também. Simplesmente, ele ficou adormecido, ao passo que o senhor acordou. Quem poderá dizer qual dos dois é o privilegiado?

- E Peppino, que foi feito dele? - perguntou Franz.

- Peppino é um rapaz de senso, que não tem o mais pequeno amor-próprio e que, ao contrário do que é habitual nos homens, que ficam furiosos quando lhes não ligam importância, ficou encantado ao ver que a atenção geral incidia sobre o seu camarada. Consequentemente, aproveitou essa distracção para se esgueirar por entre a multidão e desaparecer, sem sequer agradecer aos dignos padres que o acompanharam. Decididamente, o homem é um animal muito ingrato e egoísta.. Mas vista-se. Olhe, veja como o Sr. de Morcerf lhe dá o exemplo.

Com efeito, Albert passava maquinalmente as calças de tafetá por cima das calças pretas e das botas de verniz.

- Então, Albert, está resolvido a cometer loucuras? - perguntou Franz. - Vamos, responda francamente.

- Não - respondeu o interpelado. - Mas na verdade agora sinto-me satisfeito por ter assistido a semelhante espectáculo e compreendo o que dizia o Sr. Conde: uma vez que nos conseguimos habituar a ele, trata-se do único espectáculo que ainda provoca emoções.

- Sem contar que é apenas nesse momento que se podem fazer estudos de carácter - observou o conde. - No primeiro degrau do cadafalso, a morte arranca-nos a máscara que usamos toda a vida e o nosso verdadeiro rosto aparece. Devemos concordar que o de Andrea não era agradável de ver... Repugnante patife!... Mas vistamo-nos, meus senhores, vistamo-nos!

Franz achou que seria ridículo da sua parte fazer-se rogado e não seguir o exemplo que lhe davam os seus dois companheiros. Vestiu portanto o seu traje e pôs a máscara, que certamente não era mais pálida do que o seu rosto.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069