O Conde de Monte Cristo - Cap. 37: As Catacumbas de São Sebastião Pág. 365 / 1080

Ao fundo, silenciosa, quase invisível e como se fosse, uma sombra, uma sentinela passeava de um lado para o outro diante de uma espécie de abertura que só se distinguia porque as trevas pareciam mais espessas nesse sítio.

Quando o conde achou que Franz já apreciara suficientemente aquele quadro pitoresco, levou o dedo aos lábios para lhe recomendar silêncio, subiu os três degraus que levavam da galeria ao columbário, entrou na sala pela arcada do meio e dirigiu-se para Vampa, que estava tão profundamente absorto na leitura que não ouviu o ruído dos seus passos.

- Quem vem lá? - gritou a sentinela, maquinalmente, ao ver à luz da lanterna uma espécie de sombra crescer atrás do chefe.

Ao ouvir este grito, Vampa levantou-se vivamente e tirou ao mesmo tempo uma pistola da cintura.

Num ápice todos os bandidos estavam de pé e vinte canos de carabina visavam o conde.

- Então - disse este tranquilamente, numa voz cheia de calma, e sem que um só músculo da sua cara estremecesse -, então, meu caro Vampa, parece-me demasiado aparato para receber um amigo!

- Baixem as armas! - gritou o chefe, fazendo um gesto imperioso com uma das mãos, enquanto com a outra tirava respeitosamente o chapéu.

Depois, virando-se para a singular personagem que dominava toda a cena:

- Perdão, Sr. Conde, mas estava tão longe de esperar a honra da sua visita que não o reconheci.

- Em todo o caso, parece-me que tem a memória curta, Vampa - redarguiu o Conde -, pois não só se esquece da cara das pessoas como também das condições estabelecidas com elas.

- Que condições esqueci, Sr conde? - perguntou o bandido, como um homem que se cometeu um erro só deseja repará-lo.

- Não combinámos - disse o conde - que tanto a minha pessoa como a dos meus amigos seriam sagradas para si?

- E em que faltei ao tratado, Excelência?

- Raptou esta noite e trouxe para aqui o visconde Albert de Morcerf. Pois bem - prosseguiu o conde num tom que fez estremecer Franz -, esse jovem é um dos meus amigos, esse jovem está hospedado no mesmo hotel que eu, esse jovem andou no Corso durante oito dias na minha própria caleça, e no entanto, repito-lhe, você raptou-o, trouxe-o para aqui e acrescentou o conde tirando a carta da algibeira - pediu resgate por ele como se fosse um qualquer.

- Porque não me preveniram disso? - perguntou o chefe, virando-se para os seus homens, que recuaram todos diante do seu olhar. - Porque me expuseram assim a faltar à minha palavra para com um homem como o Sr. Conde, que tem a vida de todos nós nas suas mãos? Pelo, sangue de Cristo, se tivesse a certeza de que um de vocês sabia que o rapaz era amigo de Sua Excelência, estoirava-lhe os miolos por minha própria mão!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069