O Conde de Monte Cristo - Cap. 38: O encontro Pág. 373 / 1080

Portanto, em vez de a considerar, como você, um crime capital, permita-me que a desculpe, senão por me ter salvo a vida, o que talvez fosse um bocadinho exagerado, pelo menos por me ter permitido poupar quatro mil piastras, que equivalem nem mais nem menos a vinte e quatro mil libras na nossa moeda, importância em que com certeza me não teriam avaliado em França, o que prova - acrescentou Albert, rindo - que ninguém é profeta na sua terra.

- Ora aí está! De que terra é o conde? De que país? Que língua fala? Quais são os seus meios de existência? Donde lhe vem a sua imensa fortuna? Qual foi a primeira parte da sua vida misteriosa e desconhecida que espalhou sobre a segunda aquela «cor» sombria e misantrópica? Aqui tem o que, no seu lugar, eu gostaria de saber.

- Meu caro Franz - redarguiu Albert -, quando recebeu a minha carta e viu que necessitávamos da influência do conde, foi-lhe dizer: «Albert de Morcerf; meu amigo, corre perigo. Ajude-me a tirá-lo desse perigo!» É ou não é verdade?

- É.

- Nessa altura ele perguntou-lhe: «Quem é o Sr. Albert de Morcerf? Donde lhe vem o seu nome? Donde lhe vem a sua fortuna! Quais são os seus meios de existência? Em que país nasceu? De que terra é?» Perguntou-lhe tudo isto? Vamos, diga!

- Não, confesso.

- Pôs-se simplesmente à sua disposição e tirou-me das mãos do Sr. Vampa onde, apesar dos meus ares cheios de desenvoltura, como você diz, eu fazia muito má figura, confesso. Bom, meu caro, quando em troca de semelhante serviço ele me pede que faça por si o que se faz todos os dias pelo primeiro príncipe russo ou italiano que passa por Paris, isto é, que o apresente na sociedade, quer que lhe recuse isso? Se quer, está louco!

Devemos reconhecer que, contrariamente ao que era hábito, todas as boas razões estavam desta vez do lado de Albert.

- Enfim - redarguiu Franz, com um suspiro -, faça como quiser, meu caro visconde. Porque tudo o que me diz está muito certo, confesso, mas nem por isso é menos verdade que o conde de Monte-Cristo é um homem estranho.

- O conde de Monte-Cristo é um filantropo. Não nos disse com que fim vai a Paris, mas eu sei-o: vai para concorrer ao Prémio Montyon! E se para o obter apenas precisar do meu voto e da influência desse cavalheiro tão feio que permite obtê-lo, pois bem, dar-lhe-ei um e garantir-lhe-ei a outra. E agora, meu caro Franz, não falemos mais a tal respeito. Sentemo-nos à mesa e façamos uma derradeira visita a S. Pedro.

Assim se fez, de facto, e no dia seguinte, às cinco da tarde, os dois jovens separaram-se: Albert de Morcerf para regressar a Paris e Franz de Epinay para ir passar quinze dias a Veneza.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069