O Conde de Monte Cristo - Cap. 39: Os convivas Pág. 382 / 1080

- E porque, caro amigo, não imagina o que me ameaça. Tenho de ouvir esta manhã um discurso do Sr. Danglars na Câmara dos Deputados e à noite a mulher dele falar da tragédia de um par de França. Diabo leve o governo constitucional! Se tínhamos, como se diz, o direito de escolha, por que carga de água escolhemos este governo?

- Compreendo, você precisa de se abastecer de hilaridade.

- Não diga mal dos discursos do Sr. Danglars - interveio Debray. - Ele vota em vocês, faz oposição

- Infelizmente, muito mal! Por isso, espero que o mandem discursar para o Luxemburgo, para que toda a gente ria à vontade.

- Meu caro - disse Albert a Beauchamp -, bem se vê que os negócios de Espanha estão resolvidos; você está esta manhã de um azedume revoltante. Lembre-se, porém, de que a crónica parisiense fala de um casamento entre mim e Mademoiselle Eugénie Danglars. Em consciência, não posso pois deixá-lo falar mal da eloquência de um homem que me deve dizer um dia: «Sr. Visconde como sabe, dou dois milhões à minha filha.»

- Esteja calado! - replicou Beauchamp. - Esse casamento nunca se realizará. O rei pôde fazê-lo barão e poderá fazê-lo par, mas não o fará gentil-homem e o conde de Morcerf é uma espada demasiado aristocrática para consentir, em troca de dois pobres milhões, num casamento desigual. O visconde de Morcerf só deve casar com uma marquesa.

- Dois milhões! Não deixa de ser uma bonita maquia... - observou Morcerf.

- É o capital social de um teatro de bulevar ou de um caminho de ferro do Jardim Botânico à Rapée.

- Deixe-o falar, Morcerf, e case-se - aconselhou negligentemente Debray. - Casa com a etiqueta de um saco, não é verdade? Pois que lhe importa! É preferível que a etiqueta tenha um brasão a menos e um zero a mais. Você tem sete melras nas suas armas; dá três à sua mulher e ainda fica com quatro.

- Palavra que me parece que você tem razão, Lucien – respondeu distraidamente Albert.

- Tenho com certeza! De resto, todo o milionário é nobre como um bastardo, isto é, pode sê-lo...

- Caluda! Não diga isso, Debray - interveio, rindo, Beauchamp -, pois acaba de chegar Château-Renaud, que, para o curar da sua mania de paradoxar, lhe traspassará o corpo com a espada de Reinaldo de Montauban, seu antepassado.

- Isso seria rebaixar-se - redarguiu Lucien -, pois eu sou plebeu e bem plebeu.

- Bom, se o ministério se põe a querer cantar como Béranger, aonde iremos parar, meu Deus? - observou Beauchamp.

- O Sr. de Château-Renaud! O Sr. Maximilien Morrel! - disse o criado anunciando dois novos convivas.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069