O Conde de Monte Cristo - Cap. 41: A apresentação Pág. 404 / 1080

Da sala passaram ao quarto de dormir. Era ao mesmo tempo um modelo de elegância e de gosto severo. Ali havia um único retrato, mas assinado por Léopold Robert, e que resplandecia na sua moldura de ouro fosco.

Esse retrato atraiu imediatamente o olhar do conde de e Monte-Cristo, que deu três passos rápidos no quarto e parou de súbito diante dele.

Era o retrato de uma mulher nova, de vinte e cinco a vinte e seis anos, morena e de olhar ardente, velado por pálpebras lânguidas. Envergava o traje pitoresco das pescadoras catalãs, com o seu corpete vermelho e negro e as suas agulhas de ouro espetadas no cabelo. Olhava o mar e a sua silhueta elegante destacava-se no duplo azul das vagas e do céu.

Estava escuro no quarto, pois de contrário Albert teria visto a palidez lívida que se espalhou pelas faces do conde e surpreendido o estremecimento nervoso que lhe aflorou os ombros e o peito.

Reinou um instante de silêncio, durante o qual Monte-Cristo manteve os olhos obstinadamente fitos naquela pintura.

- Tem aqui uma bela amante, visconde - disse Monte-Cristo, numa voz perfeitamente calma. E o traje, traje de baile, sem dúvida, assenta-lhe na realidade maravilhosamente.

- Ah, senhor - disse Albert -, aí está um equívoco que lhe não perdoaria se ao lado desse retrato tivesse visto qualquer outro! Não conhece a minha mãe, senhor; é ela quem vê nesse quadro. Mandou-se pintar assim há seis ou oito anos. Esse traje é um traje de fantasia, ao que parece, e a semelhança é tão grande que creio ver ainda minha mãe tal como era em 1830. A condessa mandou fazer esse retrato durante uma ausência do conde. Sem dúvida esperava proporcionar-lhe no regresso uma agradável surpresa. Mas, coisa estranha, o retrato não agradou a meu pai, e nem o valor da pintura, que é, como vê, uma das belas telas de Léopold Robert, foi capaz de o demover da antipatia que lhe tomou. Diga-se em abono da verdade, aqui entre nós, meu caro conde, que o Sr. de Morcerf é um dos pares mais assíduos no Luxemburgo e um general famoso pela teoria, mas um amador de arte dos mais medíocres. O mesmo não acontece com a minha mãe, que pinta notavelmente, e que, estimando demasiado essa obra para se separar dela por completo, ma ofereceu, para que junto de mim estivesse menos exposta ao desagrado do Sr. de Morcerf; de quem lhe mostrarei o retrato pintado por gros. Desculpe-me se lhe falo assim tão intimamente, mas como vou ter a honra de o acompanhar junto do conde, digo-lhe isto para que não caia em gabar este retrato diante dele. De resto, ele tem tido uma funesta influência: é raro que a minha mãe venha aos meus aposentos sem o ver e mais raro ainda que o veja sem chorar. A nuvem que trouxe este quadro ao palácio é aliás a única que se ergueu entre o conde e a condessa, os quais, apesar de casados há mais de vinte anos, ainda estão unidos como no primeiro dia.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069