O Conde de Monte Cristo - Cap. 44: A vendetta Pág. 433 / 1080

Com efeito; desde que estejamos dispostos a sacrificar a vida, deixamos de ser como os outros homens, ou antes, os outros homens é que deixam de ser como nós, e quem toma semelhante resolução sente duplicar imediatamente as suas forças e alargar-se o seu horizonte.

- Deixe-se de filosofia, Sr. Bertuccio! - interrompeu-o o conde. - Mas, pelos vistos, o senhor tem feito um pouco de tudo na sua vida...

- Oh, perdão, Excelência, pela filosofia!

- Não, não! Só lhe chamei a atenção porque às dez e meia da noite é um bocadinho tarde para filosofar... Tirando isso, não tenho mais nenhuma objecção a fazer, atendendo a que a acho exacta, o que se não pode dizer de todas as filosofias.

- As minhas incursões tornaram-se portanto cada vez mais numerosas e também mais frutuosas. Assunta era poupada e a nossa fortunazinha aumentava. Um dia, antes de partir para uma viagem, disse-me ela: «Vai, que no Teu regresso reservo-te uma surpresa.” Interroguei-a inutilmente, não me quis dizer mais nada e parti

«A viagem durou perto de seis semanas. Fomos a Luca carregar azeite e a Liorne algodão inglês. Desembarcámos e descarregámos sem qualquer contratempo, fizemos o nosso negócio e regressamos alegremente.

«Quando entrei em casa, a primeira coisa que vi no sítio mais em evidência do quarto de Assunta, num berço sumptuoso, relativamente ao resto da casa, foi uma criança de sete a oito meses. Soltei um grito de alegria. Os únicos momentos de tristeza que experimentara desde o assassínio do procurador régio tinham-me sido causados pelo abandono daquela criança. Escusado será dizer que remorsos do próprio assassínio nem sombra deles.

«A pobre Assunta adivinhara tudo e aproveitara a minha ausência para, munida de metade do cueiro, tendo inscrito, para não faltar nada, o dia e a hora exacta em que a criança fora depositada no hospício, ir a Paris reclamá-la pessoalmente. Nenhuma objecção lhe fora feita e a criança fora-lhe entregue.

«Confesso, Sr. Conde, que ao ver a pobre criatura a dormir no seu berço o peito se me dilatou e as lágrimas me saltaram dos olhos.

«- Na verdade, Assunta, és uma digna mulher e a Providência te abençoará! – gritei.

- Isso já é menos exacto do que a sua filosofia – comentou Monte-Cristo. - No fundo, trata-se apenas de uma questão de fé.

- Infelizmente, Excelência - prosseguiu Bertuccio -, tem toda a razão e foi aquela mesma criança que Deus encarregou de me castigar. Nunca natureza mais perversa se declarou mais prematuramente, e no entanto ninguém poderá dizer que foi mal educado, pois a minha cunhada tratava-o como o filho de um príncipe.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069