O Conde de Monte Cristo - Cap. 44: A vendetta Pág. 434 / 1080

Era um rapaz de rosto encantador, com olhos de um azul-claro como esses tons de faiança chinesa que também se harmonizam com o branco leitoso do tom geral. Apenas o cabelo, de um louro demasiado vivo, lhe dava ao rosto um aspecto estranho, que duplicava a vivacidade do seu olhar e a malícia do seu sorriso. Infelizmente, há um provérbio que diz que os ruços ou são muito bons ou são muito maus. O provérbio não mente no que diz respeito a Benedetto, que desde a juventude se mostrou muito mau. Também é verdade que a ternura da sua mãe adoptiva encorajou as suas primeiras inclinações. O garoto, para quem a minha pobre cunhada ia ao mercado da cidade, situada a quatro ou cinco léguas de casa, comprar os primeiros frutos e as guloseimas mais delicadas, preferia, às laranjas de Palma de Maiorca e às conservas de Génova, as castanhas roubadas ao vizinho saltando as sobes, ou as maçãs secas do seu celeiro, embora tivesse à sua disposição as castanhas e as maçãs do nosso pomar.

«Um dia, teria Benedetto cinco ou seis anos, o vizinho Wasilio, que, conforme os hábitos da nossa terra, não fechava nem a sua bolsa nem as suas jóias, porque, como o Sr. Conde sabe melhor do que ninguém, na Córsega não há ladrões... um dia, o vizinho Wasilio queixou-se-nos de que lhe desaparecera um luís da bolsa. Pensámos que tivesse contado mal, mas ele afirmara que não. Nesse dia, Benedetto saíra de casa logo de manhã e estávamos numa grande inquietação, quando à tardinha o vimos chegar com um macaco que achara, dizia ele, preso a uma árvore.

«Havia um mês que a paixão do terrível garoto, que não sabia que mais inventar, era ter um macaco. Um saltimbanco que passara por Rogliano e possuía vários desses animais, cujas piruetas o tinham divertido muito, é que lhe inspirara, sem dúvida, o malfadado capricho.

«- Não há macacos nos nossos bosques - disse-lhe eu -, e sobretudo macacos amarrados. Diz-me portanto como arranjaste esse.

«Benedetto manteve a mentira e acompanhou-a de pormenores que honravam mais a sua imaginação do que a sua veracidade. Irritei-me e ele desatou a rir, ameacei-o, e ele deu dois passos atrás.

«- Não me podes bater - disse. - Não tens esse direito, não és o meu pai.

«Ignorámos sempre quem lhe revelara o fatal segredo, que entretanto tínhamos ocultado com o maior cuidado. Como quer que fosse, tal resposta, em que o garoto se revelou por completo, quase me assustou e o meu braço erguido caiu, efectivamente, sem tocar no culpado. O pequeno triunfou e aquela vitória deu-lhe tal audácia que a partir dali todo o dinheiro de Assunta, cujo amor por ele parecia aumentar à medida que se tornava menos digno, se foi em caprichos que ela não sabia contrariar, em loucuras que ela não tinha a coragem de impedir.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069