O Conde de Monte Cristo - Cap. 6: O substituto do Procurador Régio Pág. 45 / 1080

- Será possível? - perguntou a marquesa.

- Aqui está a carta denunciadora.

E Villefort leu:

O Sr. Procurador Régio é avisado por um amigo do trono e da religião de que um tal Edmond Dantès, imediato do navio Pharaon, chegado esta manhã de Esmirna depois de escalar Nápoles e Porto Ferraio foi encarregado por Murat de entregar unta carta ao usurpador e pelo usurpador de entregar outra carta ao comité bonapartista de Paris.

Ter-se-á a prova do seu crime prendendo-o pois encontrar-se-á essa carta com ele ou em casa do pai ou no seu camarote a bordo do Pharaon

- Mas - disse Renée - essa carta, que aliás não passa de uma carta anónima, é dirigida ao Sr. Procurador Régio e não a si.

- Sim, mas o procurador régio está ausente. Na sua ausência a epístola foi entregue ao seu secretário, a quem compete abrir as cartas. Abriu portanto esta, mandou-me procurar e, como se não encontrasse, ordenou a prisão.

- Assim, o culpado está preso? - perguntou a marquesa.

- Quer dizer, o acusado - corrigiu Renée.

- Está, sim, minha senhora - respondeu Villefort -, e como tive a honra de dizer há pouco a Mademoiselle Renée, se se encontrar a carta em questão o doente está muito doente.

- E onde se encontra esse infeliz? - perguntou Renée.

- Em minha casa.

- Vá, meu amigo - disse o marquês -, não falte aos seus deveres por nossa causa, quando o serviço do rei o espera noutro lado. Vá pois onde o espera o serviço do rei

- Oh, Sr. de Villefort, seja indulgente, lembre-se de que é o dia do seu noivado! - exclamou Renée, juntando as mãos.

Villefort contornou a mesa e, aproximando-se da cadeira da jovem, no espaldar da qual se apoiou, respondeu:

- Para lhe poupar uma preocupação, farei tudo o que puder, querida Renée. Mas se os indícios forem seguros e a acusação verdadeira, terá de se cortar essa erva daninha bonapartista.

Renée estremeceu ao ouvir a palavra «cortar», porque a erva que se tratava de cortar era uma cabeça.

- Ora, ora! -interveio a marquesa. - Não dê ouvidos a essa menina: ela tem de se ir habituando.

E a marquesa estendeu a Villefort a mão seca, que ele beijou sem desfitar Renée e dizendo-lhe com os olhos: «É a sua mão que beijo, ou pelo menos que desejaria beijar neste momento.»

- Tristes auspícios! - murmurou Renée.

- Na verdade, menina - disse a marquesa -, é de uma infantilidade desesperante. Muito gostaria de saber que tem o destino do Estado a ver com as fantasias sentimentais e as suas pieguices de coração.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069