O Conde de Monte Cristo - Cap. 46: O crédito ilimitado Pág. 455 / 1080

- Ora essa! - exclamou Danglars. - É algum príncipe esse cavalheiro a quem tratam por Excelência e a quem só o criado de quarto tem o direito de falar? Não faz mal, como tem um crédito sobre mim, vê-lo-ei quando precisar de dinheiro! E Danglars recostou-se no fundo da carruagem, depois de gritar ao cocheiro, de forma que se pudesse ouvir do outro lado da rua:

- À Câmara dos Deputados!

Através de uma persiana do seu pavilhão, Monte-Cristo, prevenido a tempo, vira e estudara o barão com o auxílio de um excelente binóculo com não menos atenção do que o Sr. Danglars pusera na análise da casa, do jardim e das librés.

- Decididamente - murmurou com uma expressão de repugnância, guardando o binóculo no seu estojo de marfim -, decididamente aquele homem é uma criatura horrível. Como é possível não reconhecer nele, desde a primeira vez que se vê, a serpente de cabeça achatada, o abutre de crânio abaulado e o bútio de bicocortante? Ali! - gritou, e depois bateu numa campainha de cobre.

Ali apareceu.

- Chama Bertuccio - ordenou-lhe.

No mesmo momento, Bertuccio entrou.

- V. Ex.a ia mandar-me chamar? - perguntou o intendente.

- Ia, sim, senhor - respondeu o conde. - Viu os cavalos que estivera parados diante da minha porta?

- Decerto, Excelência. São mesmo muito bonitos.

- Como é possível - prosseguiu Monte-Cristo, franzindo o sobrolho - que depois de lhe pedir que me arranjasse os dois mais belos cavalos de Paris haja em Paris dois cavalos tão bonitos como os meus e que esses cavalos não estejam nas minhas cavalariças? Perante o sobrolho franzido e o tom severo daquela voz, Ali baixou a cabeça.

- A culpa não é tua, meu bom Ali - disse o conde em árabe, com uma doçura que se não julgaria poder encontrar nem na sua voz, nem no seu rosto. - Tu não percebes de cavalos ingleses.

A serenidade reapareceu no rosto de Ali

- Sr. Conde - disse Bertuccio -, os cavalos a que se refere não estavam à venda.

Monte-Cristo encolheu os ombros:

- Fique sabendo, Sr. Intendente, que tudo está sempre à venda para quem pode pagar o preço.

- O Sr. Danglars pagou-os por dezasseis mil francos, Sr. Conde.

- Nesse caso, era oferecer-lhe trinta e dois mil. É banqueiro e um banqueiro nunca perde a oportunidade de duplicar o seu capital.

- O Sr. Conde fala a sério? - perguntou Bertuccio.

Monte-Cristo fitou o intendente como um homem surpreendido por se atreverem a interrogá-lo.

- Esta tarde vou fazer uma visita. Quero que esses dois cavalos estejam atrelados à minha carruagem com um arreio novo.

Bertuccio cumprimentou e retirou-se. Mas parou ao pé da porta para perguntar:

- A que horas conta V. Ex.a fazer essa visita?

- Às cinco horas - respondeu Monte-Cristo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069