O Conde de Monte Cristo - Cap. 50: A família Morrel Pág. 495 / 1080

E estendeu a mão a Julie, que lhe deu a dela, dominada como estava pelo olhar e pelo tom do conde.

- Mas esse Lorde Wilmore - insistiu a jovem, agarrando-se a uma derradeira esperança - tinha um país, uma família, parentes, era conhecido, enfim? Não poderíamos...

- Oh, desista, minha senhora! - pediu o conde. - Não construa suaves quimeras sobre as palavras que deixei escapar. Não, Lorde Wilmore não é provavelmente o homem que procuram. Era meu amigo, eu conhecia todos os seus segredos e ter-me-ia revelado esse.

- E não lhe disse nada? - perguntou Julie.

- Nada.

- Nunca uma palavra que o pudesse levar a supor...

- Nunca.

- No entanto, o senhor citou-o imediatamente.

- Bom, como sabe num caso assim supõe-se.

- Minha irmã, minha irmã - interveio Maximilien em auxílio do conde -, o Sr. Conde tem razão. Lembra-te do que nos disse tantas vezes o nosso bom pai: não foi um inglês que nos prestou auxílio.

Monte-Cristo estremeceu.

- O seu pai dizia-lhes... Sr. Morrel?... - perguntou vivamente.

- O meu pai, senhor, via naquela acção um milagre. O meu pai acreditava num benfeitor saído por nossa causa do túmulo. Oh, era tão comovente a sua superstição, senhor, que embora eu não acreditasse nela nunca me passou pela cabeça destruir tal crença no seu nobre coração! Quantas vezes devaneava pronunciando baixinho o nome de um amigo perdido; e quando estava prestes a morrer, quando a proximidade da eternidade deu ao seu espírito qualquer coisa da inspiração da sepultura, aquela ideia, que até ali não passara de uma suspeita, transformou-se numa convicção, e as últimas palavras que pronunciou foram estas: «Maximilien, foi Edmond Dantès!»

A palidez do conde, que havia alguns segundos ia aumentando, tornou-se horrível depois destas palavras. Todo o sangue lhe afluíra ao coração e não conseguia falar. Puxou do relógio, como se se tivesse esquecido das horas, pegou no chapéu, apresentou à Sr.ª Herbault um cumprimento brusco e embaraçado e apertou a mão a Emmanuel e Maximilien.

- Minha senhora - disse -, permita-me que venha algumas vezes apresentar-lhe os meus cumprimentos. Gosto da sua casa e estou-lhe grato pelo seu acolhimento, tão agradável que pela primeira vez em muitos anos me esqueci das horas.

E saiu a passos largos.

- É um homem singular, esse conde de Monte-Cristo - disse Emmanuel.

- Pois é - concordou Maximilien -, mas creio que possui um excelente coração e estou certo de que gosta de nós.

- E a mim - disse Julie - a sua voz penetrou-me até ao coração e por duas ou três vezes pareceu-me que não era a primeira vez que a ouvia.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069