O Conde de Monte Cristo - Cap. 7: O interrogatório Pág. 50 / 1080

- A sua idade? - continuou Villefort

- Dezanove anos - respondeu Dantès.

- Que fazia quando foi preso?

- Assistia ao banquete do meu próprio noivado, senhor - respondeu Dantès em voz ligeiramente comovida, de tal forma era doloroso o contraste entre esses momentos de alegria e aquela cerimónia lúgubre, de tal forma o rosto sombrio do Sr. de Villefort fazia brilhar em todo o seu esplendor a cara radiante de Mercédès.

- Assistia ao seu banquete de noivado - repetiu o substituto, estremecendo a seu pesar.

- Sim, senhor, estou prestes a casar com uma mulher que amo há três anos.

Villefort, apesar de se mostrar habitualmente impassível, ficou impressionado com a confidência, com a voz comovida de Dantès, surpreendido no meio da sua felicidade, e essa voz fez-lhe vibrar uma fibra simpática no fundo da alma. Também ele se ia casar, também ele era feliz, e acabavam de perturbar a sua felicidade a fim de o levarem a contribuir para a destruição da alegria de um homem que, como ele, tocava já a felicidade.

Este paralelismo filosófico, pensou, produziria grande efeito no seu regresso ao salão do Sr. de Saint-Méran. E compôs antecipadamente no espírito, enquanto Dantès esperava novas perguntas, as palavras antitéticas com o auxílio das quais os oradores constroem essas frases sedentas de aplausos que por vezes fazem crer numa verdadeira eloquência.

Composto o seu pequeno speech interior, Villefort sorriu do efeito e disse, dirigindo-se a Dantès:

- Continue, senhor.

- Que deseja que continue?

- A esclarecer a justiça.

- A justiça que me diga em que ponto deseja ser esclarecida e dir-lhe-ei tudo o que sei. Simplesmente - acrescentou também com um sorriso -, previno-a de que não sei grande coisa.

- Serviu no tempo do usurpador?

- Ia ser incorporado na marinha de guerra quando ele caiu.

- São conhecidas as suas opiniões políticas extremistas - insinuou Villefort, a quem ninguém dissera nada a tal respeito, mas que não achava despropositado afirmá-lo como quem formula uma acusação.

- As minhas opiniões políticas, senhor? Bom, é quase vergonhoso dizê-lo, mas nunca tive o que se chama uma opinião. Tenho apenas dezanove anos, como já tive a honra de lhe dizer; não sei nada, não estou destinado a desempenhar qualquer papel; o pouco que sou e que serei, se me derem o lugar que ambiciono, devê-lo-ei ao Sr. Morrel. Por isso, todas as minhas opiniões, não direi políticas, mas pessoais, limitam-se a estes três sentimentos: amo o meu pai, respeito o Sr. Morrel e adoro Mercédès. Aqui tem, senhor, tudo o que posso dizer à justiça; como vê, é pouco interessante para ela.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069