O Conde de Monte Cristo - Cap. 53: Roberto, o diabo Pág. 519 / 1080

Capítulo LIII - Roberto, o diabo

A desculpa da ópera era tanto mais fácil de dar quanto é certo haver naquela noite sessão solene na Academia Real de Música.

Levasseur, depois de uma demorada indisposição, regressava no papel de Bertram, e, como sempre, a obra do maestro da moda atraíra a mais brilhante sociedade de Paris.

Morcerf, como a maioria dos rapazes ricos, tinha a sua cadeira de orquestra, além de mais dez camarotes de pessoas de seu conhecimento às quais podia ir pedir lugar, sem contar com aquele a que tinha direito no camarote dos leões. Château-Renaud tinha uma cadeira ao pé dele. Beauchamp, na sua qualidade de jornalista, era rei da sala e tinha lugar em toda a parte.

Naquela noite, Lucien Debray dispunha do camarote do ministro e oferecera-o ao conde de Morcerf, o qual, perante a recusa de Mercédès, o cedera a Danglars, mandando-lhe dizer que provavelmente faria durante o espectáculo uma visita à baronesa e à filha, se elas se dignassem aceitar o camarote que lhe oferecia. Claro que elas aceitaram. Não há como os milionários para cobiçarem camarotes que lhes não custam nada.

Quanto a Danglars, declarara que os seus princípios políticos e a sua qualidade de deputado da oposição lhe não permitiam entrar no camarote do ministro. Por consequência, a baronesa escrevera a Lucien para que a viesse buscar, atendendo a que não podia ir à ópera sozinha com Eugénie.

Com efeito, se as duas mulheres fossem sós, toda a gente teria achado isso de muito mau gosto, ao passo que Mademoiselle Danglars, indo à ópera com a mãe e o amante da mãe, não provocava quaisquer comentários. É preciso aceitar o mundo como ele é.

O pano subiu, como de costume, perante uma sala quase vazia.

Era mais um hábito da sociedade parisiense: chegar ao teatro depois de o espectáculo começar. Daí resultava que o primeiro acto se passava, da parte dos espectadores chegados, não a ver ou ouvir a peça, mas sim a ver entrar os espectadores que iam chegando e ouvir apenas o barulho das portas e das conversas.

- Olha! - exclamou de súbito Albert ao ver abrir-se um camarote de primeira ordem. - Olha a condessa G...!

- Quem é essa condessa G...? - perguntou Château-Renaud.

- Essa agora, barão! Aí está uma pergunta que lhe não perdoo! Pergunta quem é essa condessa G...?

- Ah, é verdade! - exclamou Château-Renaud - Não é aquela encantadora veneziana?

- Exactamente.

Neste momento a condessa G... viu Albert e trocou com ele um cumprimento acompanhado de um sorriso.

- Conhece-a? - perguntou Château-Renaud.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069