O Conde de Monte Cristo - Cap. 7: O interrogatório Pág. 55 / 1080

Villefort fez um esforço violento sobre si mesmo e disse num tom que pretendia tornar firme:

- Senhor, as acusações mais graves resultam para si do seu interrogatório e não está portanto na minha mão, como de início esperei, pô-lo imediatamente em liberdade; antes de tomar semelhante medida devo consultar o juiz de instrução. Entretanto, já viu de que forma o tenho tratado...

- Oh, sim, senhor, e agradeço-lhe, pois tem sido para mim muito mais amigo do que um juiz! - declarou Dantès.

- Pois bem, senhor, vou conservá-lo mais algum tempo preso, mas o menos que puder. A principal acusação que existe contra si é esta carta, e como vê...

Villefort aproximou-se da chaminé, lançou-a ao fogo e deixou-se estar até a carta ficar reduzida a cinzas.

- E como vê - continuou - destruo-a.

- Oh, o senhor é mais do que justiça, é a bondade! - exclamou Dantès.

- Mas escute-me - prosseguiu Villefort. - Depois de semelhante ato, decerto compreende que pode confiar em mim, não é verdade?

- Oh, senhor, ordene e cumprirei as suas ordens!

- Não - disse Villefort aproximando-se do rapaz -, não são ordens o que lhe quero dar, são conselhos, compreende?

- Diga-os e conformar-me-ei com eles como se fossem ordens.

- Vou conservá-lo aqui, no Palácio da Justiça, até à noite.

Talvez mais alguém o venha interrogar: diga tudo o que me disse, mas nem uma palavra acerca da carta.

- Prometo-lhe, senhor.

Agora era Villefort que parecia suplicar, era o arguido que tranquilizava o juiz.

- Compreende - disse, deitando um olhar às cinzas, que ainda conservavam a forma do papel e que esvoaçavam por cima das chamas -, agora a carta desapareceu, só o senhor e eu sabemos que ela existiu. Ninguém lha tornará a apresentar. Negue-a, pois, se lhe falarem dela, negue decididamente e estará salvo.

- Negarei, senhor esteja tranquilo - prometeu Dantès.

- Muito bem, muito bem - aprovou Villefort, levando a mão ao cordão de uma campainha.

Depois, detendo-se um momento de tocar:

- Era a única carta que tinha - perguntou.

- A única.

- Jure.

Dantès estendeu a mão.

- Juro - disse.

Villefort tocou.

O comissário da polícia entrou.

Villefort aproximou-se dele e disse-lhe qualquer coisa ao ouvido a que o comissário respondeu com um simples aceno de cabeça.

- Vá senhor - disse Villefort a Dantès.

Dantès inclinou-se, deitou um último olhar de reconhecimento a Villefort e saiu.

Assim que a porta se fechou atrás dele, as forças faltaram a Villefort, que caiu quase sem sentidos numa poltrona.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069