O Conde de Monte Cristo - Cap. 58: O Sr. Noirtier de Villefort Pág. 571 / 1080

Noirtier ergueu os olhos ao céu. Era o sinal convencionado entre ele e Valentine quando desejava qualquer coisa.

- Que queres, querido avozinho? Vejamos...

Valentine procurou um instante na memória, exprimiu em voz alta os seus pensamentos à medida que lhe acudiam e, vendo que a tudo o que dizia o velho respondia constantemente «não», murmurou:

- Já que sou tão estúpida, recorramos aos grandes meios...

Então recitou uma após outra todas as letras do alfabeto, do Aao N, enquanto com um sorriso interrogava o olhar do paralítico. No N, Noirtier fez sinal que sim.

- Ah! - exclamou Valentine. - O que quer começa pela letra N! É o N que nos interessa? Muito bem! Vejamos o que juntamos ao N... Na, ne, ai, no...

- Sim, sim, sim - disse o velho.

- Ah! É o no?

- É.

Valentine foi buscar um dicionário que colocou numa estante de música diante de Noirtier. Abriu-o e quando viu os olhos do velho nas folhas percorreu vivamente as colunas, de alto abaixo, com o dedo.

O exercício, praticado desde que havia seis anos Noirtier caíra no estado deplorável em que se encontrava, tornara-se tão fácil que ela adivinhava com tanta rapidez o pensamento do velho como se ele próprio pudesse consultar o dicionário.

Noirtier fez-lhe sinal para parar na palavra notário.

- Notário! - exclamou Valentine. - Queres um notário, avozinho?

O velho fez sinal de que era efectivamente um notário o que desejava.

- Devemos então mandar chamar um notário? - perguntou Valentine.

- Sim.

- O meu pai deve saber?

- Deve.

- Tens pressa de falar com o notário?

- Tenho.

- Então, vamos mandar chamá-lo imediatamente, querido avozinho. É tudo o que desejas?

- É.

Valentine correu para a campainha, chamou um criado e mandou-o pedir ao Sr. e à Sr.ª de Villefort que viessem ao quarto do avô.

- Estás satisfeito? - perguntou Valentine. - Sim... bem vejo! Mas olha que não era fácil descobrir o que pretendias...

E a jovem sorriu ao avô como sorriria a uma criança.

O Sr. de Villefort entrou, trazido por Barrois.

- Que deseja, senhor? - perguntou ao paralítico.

- Senhor - respondeu Valentine -, o meu avô deseja um notário.

Ao ouvir aquele pedido estranho e sobretudo inesperado, o Sr. de Villefort trocou um olhar com o paralítico.

- Sim - confirmou o velho, com uma firmeza que indicava que com o auxílio de Valentine e do seu velho criado, que sabia agora o que ele desejava, estava pronto para sustentar a luta.

- Quer um notário? - repetiu Villefort.

- Quero.

- Para quê?

Noirtier não respondeu.

- Mas para que necessita de um notário? - insistiu Villefort.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069