O Conde de Monte Cristo - Cap. 59: O testamento Pág. 575 / 1080

o velho deteve-a na segunda destas sílabas.

Então, Valentine pegou no dicionário e folheou as páginas diante do olhar atento do notário.

- Testamento - disse, parando o dedo a um sinal de olhos deNoirtier.

- Testamento! - exclamou o notário. - É evidente, o senhor quer testar.

- Quero - confirmou Noirtier várias vezes.

- Convenhamos que é maravilhoso, senhor! - disse o notário, estupefacto, a Villefort.

- De facto - replicou este - e ainda mais maravilhoso será o testamento. Porque, enfim, não creio que os artigos se alinhem no papel, palavra por palavra, sem a inteligente inspiração daminha filha. Ora, Valentine talvez seja um pouco interessada nesse testamento e por isso uma intérprete não muito conveniente das obscuras vontades do Sr. Noirtier de Villefort.

- Não, não! - contrapôs o paralítico.

- Como, Valentine não é interessada no seu testamento? - estranhou Villefort.

- Não - repetiu Noirtier.

- Senhor - interveio o notário, que, encantado com a experiência, prometia a si mesmo contar em sociedade os pormenores daquele episódio pitoresco -, senhor, nada me parece mais fácil agora do que o que há pouco olhava como uma coisa impossível. O testamento será muito simplesmente um testamento místico, quer dizer, previsto e autorizado pela lei desde que seja lido diante de sete testemunhas, aprovado pelo testador diante delas e fechado pelo notário, sempre diante delas. Quanto ao prazo, durará apenas mais tempo do que um testamento ordinário. Vêm primeiro as fórmulas consagradas, e que são sempre as mesmas, e quanto aos pormenores, na sua maioria, serão fornecidos pelo próprio estado dos negócios do testador e pelo senhor, que, tendo-os gerido, os conhece. Mas mesmo assim, para que o acto seja inatacável, vamos dar-lhe a mais completa autenticidade. Um dos meus colegas servir-me-á de ajudante e, contra o que é hábito, assistirá ao ditado. Está satisfeito, senhor? - acrescentou o notário, dirigindo-se ao velho.

- Estou - respondeu Noirtier, radiante por ser compreendido.

“Que irá ele fazer?”, perguntou a si próprio Villefort, a quem a alta posição que ocupava impunha a maior reserva e que, aliás, não podia adivinhar qual era o objectivo do pai.

Virou-se para mandar buscar o segundo notário designado pelo primeiro. Mas Barrois, que ouvira tudo e adivinhara o desejo do amo, já saíra.

Então, o procurador régio mandou dizer à mulher que subisse.

Passado um quarto de hora toda a gente estava reunida no quarto do paralítico e chegara o segundo notário.

Os dois funcionários públicos chegaram a acordo em poucas palavras.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069