O Conde de Monte Cristo - Cap. 60: O telégrafo Pág. 583 / 1080

- Bom, deve ser isso - sugeriu Monte-Cristo. - O Sr. Noirtier e o Sr. de Epinay devem ter-se degladiado no campo da política. O Sr. General de Epinay, embora tivesse servido no tempo de Napoleão, não guardaria no fundo do coração sentimentos monárquicos? Não foi o mesmo que assassinaram numa noite, à saída de um clube napoleónico, onde o tinham atraído na esperança de encontrar nele um adepto?

Villefort fitou o conde quase com terror:

- Engano-me? - perguntou Monte-Cristo.

- Não, senhor - respondeu a Sr.ª de Villefort. - Pelo contrário, foi mesmo assim que as coisas se passaram. E foi também devido ao que acaba de dizer que, para acabar com velhos ódios, o Sr. de Villefort teve a ideia de levar a amarem-se dois filhos cujos pais se tinham odiado.

- Uma ideia sublime! - exclamou Monte-Cristo. - Uma ideia cheia de caridade e que o mundo devia aplaudir. Com efeito, seria bonito ver Mademoiselle Noirtier de Villefort chamar-se Sr.ª Franz de Epinay.

Villefort estremeceu e fitou Monte-Cristo como se quisesse ler-lhe no fundo do coração a intenção que lhe ditara as palavras que acabava de proferir.

Mas o conde conservou o benévolo sorriso estereotipado que tinha nos lábios e ainda desta vez, apesar da acuidade do seu olhar, o procurador régio não viu para lá da epiderme.

- Por isso, - prosseguiu Villefort -, embora seja uma grande perda para Valentine ficar sem a fortuna do avô, não creio que o casamento fique sem eleito. O Sr. de Epinay não recuará diante desse contratempo pecuniário, estou certo; verá que valho mais do que esse dinheiro, uma vez que o sacrifico ao desejo de lhe manter a minha palavra. Além disso, calculará que Valentine é rica por herança da mãe, administrada pelo Sr. e pela Sr.ª de Saint-Méran, seus avós maternos, que a amam ternamente.

- E que merecem bem que os amem e os tratem como Valentine tem tratado o Sr. Noirtier - disse a Sr.ª de Villefort. - De resto, devem vir a Paris no máximo dentro de um mês e, depois de tal afronta, Valentine será dispensada de se enterrar, como tem feito até aqui, junto do Sr. Noirtier.

O conde escutava com complacência a voz dissonante daqueles amores próprios feridos e daqueles interesses prejudicados.

- Parece-me, no entanto - disse Monte-Cristo, após um instante de silêncio -, e peço-lhes antecipadamente perdão do que vou dizer; parece-me que o Sr. Noirtier deserda Mademoiselle de Villefort por a considerar culpada de querer casar com um rapaz cujo pai detestou, não tem a mesma razão de queixa da parte do querido Édouard...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069