O Conde de Monte Cristo - Cap. 60: O telégrafo Pág. 584 / 1080

- Pois não é verdade, senhor? - apressou-se a concordar a Sr.ª de Villefort, com uma intonação impossível de descrever. – Não é verdade que é injusto? O pobre Édouard também é neto do Sr. Noirtier, tanto como Valentine, e no entanto, se Valentine não casasse com o Sr. Franz, o Sr Noirtier deixava-lhe tudo o que possui. Além disso, Édouard é o continuador do nome da família o que não impede que, mesmo supondo que Valentine seja efectivamente deserdada pelo avô, ela seja ainda três vezes mais rica do que ele.

Depois deste golpe, o conde escutou e não disse mais nada.

- Pronto - interveio Villefort. - Pronto, Sr. Conde, ponhamos de parte, peço-lhe, estas misérias de família. Sim, é verdade, a minha fortuna vai aumentar os rendimentos dos pobres, que são hoje os verdadeiros ricos. Sim, meu pai frustrar-me-á uma esperança legítima e sem qualquer razão. Mas procederei como um homem de bem, como um homem de coração. O Sr. de Epinay, a quem prometera o rendimento desse dinheiro, recebê-lo-á, nem que tenha de me impor as mais cruéis privações.

- Entretanto - prosseguiu a Sr.ª de Villefort, voltando à única ideia que lhe murmurava constantemente no fundo do coração -, talvez fosse melhor comunicar este contratempo ao Sr. de Epinay, para o caso de ele próprio se querer desobrigar da sua palavra... .

- Mas isso seria uma grande desgraça! - exclamou Villefort.

- Uma grande desgraça? - repetiu Monte-Cristo.

- Sem dúvida - prosseguiu Villefort, acalmando-se. – Um casamento anulado, mesmo por motivos de dinheiro, lança o descrédito sobre uma rapariga. Além disso, voltariam a ganhar consistência antigos boatos que desejo extinguir. Mas não, isso não acontecerá. Se o Sr. de Epinay for um homem honesto, considerar-se-á ainda mais comprometido pela deserdação de Valentine do que anteriormente. De contrário, procederia apenas como se tivesse em vista um simples objectivo de cupidez. Não, é impossível.

- Penso como o Sr. de Villefort - declarou Monte-Cristo, olhando para a Sr.ª de Villefort. - E se me pudesse considerar suficientemente seu amigo para me permitir dar-lhe um conselho, convidá-lo-ia, uma vez que o Sr. de Epinay vai regressar, pelo menos segundo me disseram, a atar tão solidamente esses laços que nunca mais se pudessem desatar. Por último, empenhar-me-ia em conseguir que tudo terminasse da forma mais honrosa possível para o Sr. de Villefort.

Este último levantou-se, dominado por visível satisfação, enquanto a mulher empalidecia ligeiramente.

- Era exactamente isso que exigiria e esperaria de um conselheiro como o senhor - disse, estendendo a mão a Monte-Cristo. - Portanto, que toda a gente aqui considere o que se passou hoje como se não tivesse acontecido.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069