O Conde de Monte Cristo - Cap. 61: Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos Pág. 588 / 1080

Capítulo LXI - Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos

Não na mesma tarde, como dissera, mas sim no dia seguinte, o conde de Monte-Cristo saiu pela barreira do Inferno, tomou a estrada de Orleães, passou pela aldeia de Linas sem se deter no telégrafo, que precisamente no momento da passagem do conde movia os seus longos braços descarnados, e alcançou a torre de Montlhéry, situada, como toda a gente sabe, no ponto mais elevado da planície do mesmo nome.

Ao pé da colina o conde apeou-se e, por um carreirinho circular, de dezoito polegadas de largura, começou a subir a encosta. Chegado ao cimo, viu-se detido por uma sebe na qual frutos verdes tinham sucedido às flores cor-de-rosa e brancas.

Monte-Cristo procurou a porta do pequeno recinto e não tardou a encontrá-la. Era uma cancelinha de madeira que girava em gonzos de vime e se fechava com um prego e um cordel.

O conde não tardou a descobrir o funcionamento do «mecanismo» e a porta abriu-se.

Monte-Cristo encontrou-se então num jardinzito de vinte pés de comprimento por doze de largura, limitado por um lado pela parte da sebe em que se enquadrava o engenhoso maquinismo que descrevemos sob o nome de porta e pelo outro pela velha torre rodeada de hera, toda salpicada de mostarda-brava e goivos. Ninguém diria, ao vê-la assim engelhada e florida como uma avó a quem os netinhos acabassem de dar os parabéns pelo seu aniversário, que poderia contar muitos dramas terríveis se juntasse uma voz aos ouvidos ameaçadores que um velho provérbio atribui às muralhas. Percorria-se o jardim seguindo por uma alameda coberta de saibro vermelho, ladeada de espessa sebe de luxo de vários tons, que teriam deliciado os olhos de Delacroix, o nosso Ruhens moderno. A alameda tinha a forma de um X e serpenteava continuamente de forma a abrir num jardim de vinte pés um passeio de sessenta. Nunca Flora, a alegre e fresca deusa dos bons jardineiros latinos, fora honrada com um culto tão minucioso e puro como o que lhe prestavam naquele recintozinho. Com efeito, de vinte roseiras que compunham os canteiros nem uma folha apresentava sinal de mosca, nem uma hastezinha o pequeno cacho de pulgões-verdes que devastam e roem as plantas que vegetam em terreno húmido. No entanto, não era a humidade o que faltava naquele jardim a terra negra como fuligem e a folhagem opaca das árvores bem o denunciavam.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069