O Conde de Monte Cristo - Cap. 62: Os fantasmas Pág. 602 / 1080

- Conte-os o senhor mesmo.

- Já chegou toda a gente, Excelência?

- Já.

Bertuccio olhou através da porta entreaberta. Monte-Cristo não o perdia de vista.

- Oh, meu Deus! - exclamou o intendente.

- Que é? - perguntou o conde.

- Aquela mulher!... Aquela mulher!...

- Qual?

- Aquela de vestido branco e cheia de diamantes! A loura!...

- A Sr.ª Danglars?

- Não sei como se chama, mas é ela, senhor, é ela!

- Ela, quem?

- A mulher do jardim! A que estava grávida! A que passeava enquanto esperava!

Bertuccio ficou de boca aberta, pálido e com os cabelos em pé.

- Enquanto esperava quem?

Sem responder, Bertuccio indicou Villefort com o dedo, mais ou menos da mesma maneira que Macbeth indicou Banco.

- Oh!... Oh!... - murmurou por fim - vê?

- O quê? Quem?

- Ele!

- Ele?... O Sr. Procurador Régio? O Sr. de Villefort? Claro que vejo.

- Mas então... não o matei?

- Tem cada uma! Começo a convencer-me que enlouqueceu, meu caro Sr. Bertuccio - redarguiu o conde.

- Não morreu?

- Não, claro que não morreu, como vê! Em vez de o ferir entre a sexta e a sétima costela esquerda, como fazem os seus Compatriotas, o senhor feriu-o mais acima ou mais abaixo, e aquela gente da justiça tem a alma muito agarrada ao corpo, não sabia? A não ser que nada do que me contou fosse verdade, não passasse de um sonho da sua imaginação, de uma alucinação do seu espírito. Provavelmente adormeceu depois de digerir mal a sua vingança; ela pesou-lhe no estômago, o senhor teve um pesadelo e pronto! Vamos, recupere a calma e conte: o Sr. e a Sr.ª de Villefort, dois; o Sr. e a Sr.ª Danglars, quatro; o Sr. de Château-Renaud, o Sr. Debray e o Sr. Morrel, sete; o Sr. Major Bartolomeo Cavalcanti, oito.

- Oito! - repeliu Bertuccio.

- Espere! Espere! Está com muita pressa de se ir embora, que diabo! Esquece-se de um dos meus convidados.

Desvie-se um bocadinho para a esquerda... olhe... o Sr. Andrea Cavalcanti, aquele jovem de casaca preta que está a admirar a Virgem de Murillo e que se vira agora.

Desta vez, Bertuccio começou um grito, que o olhar de Monte-Cristo lhe extinguiu nos lábios.

- Benedetto!... - murmurou baixinho. - Que fatalidade!

- Estão a dar seis e meia, Sr. Bertuccio - disse severamente o conde. - Está na hora a que dei ordem para se ir para a mesa; bem sabe que não gosto de esperar.

E Monte-Cristo voltou à sala, onde o esperavam os seus convidados, enquanto Bertuccio regressava à sala de jantar apoiando-se nas paredes.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069