O Conde de Monte Cristo - Cap. 63: O jantar Pág. 609 / 1080

A Sr.ª Danglars procurou balbuciar algumas palavras, que ninguém ouviu.

Cruzaram-se várias observações cujo resultado foi concluir-se que na verdade o quarto de damasco vermelho tinha um aspecto sinistro.

- Não é verdade? - perguntou Monte-Cristo. - Vejam como a cama está estranhamente colocada e como é sombrio e sangrento o damasco das paredes! E aqueles dois retratos a pastel, que a humidade desbotou, não parecem dizer, com os seus lábios lívidos e os seus olhos esgazeados: «Eu vi!» Villefort perdeu por completo a cor e a Sr.ª Danglars caiu num canapé colocado perto da lareira.

- Oh! - exclamou a Sr.ª de Villefort, sorrindo. - Tem a coragem de se sentar nesse canapé, onde talvez o crime foi cometido?...

A Sr.ª Danglars levantou-se vivamente.

- Mas isto não é tudo... - disse Monte-Cristo.

- Que mais temos? - perguntou Debray, a quem a comoção da Sr.ª Danglars não escapara.

- Sim, que mais temos ainda? - secundou-o Danglars. - Porque, até agora confesso que não vi grande coisa. E o senhor, major Cavalcanti?

- Oh! - exclamou o interpelado. - Nós temos em Pisa a torre de Ugolino, em Ferrara a prisão de Tasso e em Rimini o quarto de Francisca e Paulo...

- Pois sim, mas não têm esta escadinha - atalhou Monte-Cristo, abrindo uma porta disfarçada na parede. - Vejam-na e digam o que lhes parece.

- Que escada-de-caracol mais sinistra! - exclamou Château-Renaud, rindo.

- A verdade é que - confessou Debray - não sei se é o vinho de Chio que me põe melancólico, mas não há dúvida de que acho esta casa muito soturna.

Quanto a Morrel, desde que ouvira falar do dote de Valentine, ficara triste e não proferira uma palavra.

- Imaginem - sugeriu Monte-Cristo - um Otelo ou um abade de Ganges qualquer descendo passo a passo, numa noite escura e tempestuosa, esta escada, com qualquer lúgubre fardo que tem pressa de furtar à vista dos homens, senão ao olhar de Deus...

A Sr.ª Danglars semidesmaiou nos braços de Villefort, que por sua vez foi obrigado a encostar-se à parede.

- Meu Deus, senhora! - gritou Debray. - Que tem? Como está pálida!

- O que ela tem é muito simples - interveio a Sr.ª de Villefort. - Está morta de medo. É o resultado de o Sr. Conde de Monte-Cristo se pôr a contar-nos histórias horríveis, na intenção de nos aterrorizar.

- Claro - concordou Villefort. - De facto, conde, o senhor aterroriza as senhoras...

- Que tem? - repetiu baixinho Debray à Sr.ª Danglars.

- Nada, nada - respondeu ela, fazendo um esforço. - Preciso apenas de ar...

- Quer descer ao jardim? - perguntou Debray, oferecendo o braço à Sr.ª Danglars e encaminhando-se para a escada secreta.

- Não, não - disse ela. - Prefiro ficar aqui.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069