O Conde de Monte Cristo - Cap. 65: Cena conjugal Pág. 627 / 1080

Mas fique ciente que mesmo que tivesse conseguido ocultar os seus desregramentos ao seu marido, o que seria o abc da arte, porque a maior parte do tempo os maridos não querem ver, a senhora não passaria de uma pálida cópia do que faz metade das suas amigas da alta-roda. Mas comigo as coisas não se passam assim. Tenho visto e sempre

» Há dezasseis anos, mais ou menos, talvez me tivesse ocultado um pensamento, mas não um procedimento, uma acção, uma falta. Enquanto pelo seu lado se felicitava pela sua astúcia e julgava firmemente enganar-me, que acontecia? Graças à minha pretensa ignorância, desde o Sr. de Villefort até ao Sr. Debray, não há um dos seus amigos que não tenha tremido diante de mim. Não há um que não me tenha tratado como dono da casa, a minha única pretensão junto de si. Não há um, enfim, que se tenha atrevido a dizer-lhe de mim o que eu próprio lhe digo agora. Permito-lhe que me torne odioso, mas impedi-la-ei de me tornar ridículo, e sobretudo proíbo-a concretamente e acima de tudo de me arruinar.

Até ao momento em que o nome de Villefort fora pronunciado, a baronesa conservara-se aparentemente calma. Mas ao ouvir aquele nome, empalidecera e, erguendo-se como se fosse impelida por uma mola, estendera os braços como que para conjurar uma aparição e deu três passos na direcção do marido, como se quisesse arrancar-lhe o fim do segredo que ele não conhecia ou que talvez, por meio de qualquer cálculo odioso como eram quase sempre todos os cálculos de Danglars, ele não queria revelar inteiramente.

- O Sr. de Villefort? Que significa... que quer dizer?

- Quer dizer, minha senhora, que o Sr. de Nargonne, seu primeiro marido, não sendo filósofo nem banqueiro, ou talvez sendo um e outro, e vendo que não tinha nenhum partido a tirar de um procurador régio, morreu de desgosto ou de raiva por a encontrar grávida de seis meses, depois de uma ausência de nove. Sou brutal, e não só o sei como ainda me gabo disso. É um dos meus meios de êxito nas minhas operações comerciais.

»Por que motivo, em vez de matar se matou a si mesmo? Porque não tinha de salvar o seu dinheirinho. Mas eu devo-me ao meu dinheiro. O Sr. Debray, meu sócio, fez-me perder setecentos mil francos; pois que suporte a sua parte do prejuízo e continuaremos a negociar. De contrário, que declare falência perante mim por essas cento e setenta e cinco mil libras e faça o que fazem os falidos, desapareça. Meu Deus, é um rapaz encantador, bem sei, quando as suas notícias são exactas; mas quando o não são, há cinquenta no mundo que valem mais do que ele.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069