O Conde de Monte Cristo - Cap. 71: O pão e o sal Pág. 670 / 1080

- E perdoou-lhe o que ela o fez sofrer?

- A ela, sim.

- Mas só a ela. Continua a odiar aqueles que o separaram dela?

A condessa colocou-se diante de Monte-Cristo. Tinha ainda na mão um bocadinho do cacho de uvas perfumado.

- Tome - pediu.

- Nunca como uvas moscatéis, minha senhora - respondeu Monte-Cristo como se fosse a primeira vez que tocavam em tal assunto.

A condessa atirou o cacho para o maciço mais próximo com um gesto de desespero.

- Inflexível! - murmurou.

Monte-Cristo ficou tão impassível como se a censura lhe não fosse dirigida.

Albert apareceu neste momento.

- Oh, minha mãe, que grande desgraça! - exclamou.

- Que foi? Que aconteceu? - perguntou a condessa, endireitando-se, como se depois do sonho acabasse de ser trazida à realidade. - Uma desgraça, dizes tu? Com efeito, devem aproximar-se desgraças...

- O Sr. de Villefort está cá.

- E então?

- Vem buscar a mulher e a filha.

- Porquê?

- Porque a Sr.ª Marquesa de Saint-Méran, chegou a Paris com a notícia de que o Sr. de Saint-Méran morreu depois de sair de Marselha, na primeira muda de cavalos. A Sr.ª de Villefort estava tão alegre que não era capaz de compreender nem de acreditar em semelhante desgraça. Mas Mademoiselle Valentine, mal ouviu as primeiras palavras, apesar das precauções que o pai tomou, adivinhou tudo. O golpe fulminou-a como um raio e caiu sem sentidos.

- Que é o Sr. de Saint-Méran a Mademoiselle de Villefort? - perguntou o conde.

- Avô materno. Vinha para apressar o casamento de Franz com a neta.

- Ah, sim?!

- Lá tem o Franz de esperar mais um tempo! Porque não seria o Sr. de Saint-Méran também avô de Mademoiselle Danglars?...

- Albert! Albert! - interveio a Sr.ª de Morcerf em tom de meiga censura. - Que estás para aí a dizer? Olhe, Sr. Conde, diga-lhe o senhor, por quem ele tem tão grande consideração, que não deve falar assim.

A condessa deu alguns passos em frente.

Monte-Cristo olhou-a tão estranhamente e com uma expressão ao mesmo tempo tão pensativa e tão cheia de afectuosa admiração que ela voltou atrás.

Então, pegou-lhe na mão, ao mesmo tempo que apertava a do filho e juntava ambas, e perguntou:

- Somos amigos, não somos?

- Ser seu amigo, minha senhora, é pretensão que não tenho; mas de qualquer forma sou um seu respeitoso servidor.

A condessa retirou-se com inexprimível aperto no coração, e antes de dar dez passos o conde viu-a levar o lenço aos olhos.

- Acaso não estão de acordo, minha mãe e o senhor? – perguntou Albert, surpreendido.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069