O Conde de Monte Cristo - Cap. 72: A Sra. de Saint-Méran Pág. 676 / 1080

O Sr. de Saint-Méran e Noirtier nunca tinham estado ligados por uma amizade muito profunda, no entanto, sabe-se o efeito que produz sempre num velho o anúncio da morte doutro velho.

Noirtier deixou cair a cabeça para o peito, como um homem acabrunhado ou como um homem que pensa, e depois fechou um só olho.

- Mademoiselle Valentine? - perguntou Barrois.

Noirtier fez sinal que sim.

- Está no baile, como o senhor muito bem sabe, pois veio cá despedir-se em traje de cerimónia.

Noirtier voltou a fechar o olho esquerdo.

- Sim, quer vê-la? - O velho fez sinal de que era isso que desejava.

- Decerto vão mandar buscá-la a casa da Sr.ª de Morcerf

Esperá-la-ei no seu regresso e pedir-lhe-ei que suba ao quarto do senhor. É isto?

- É - respondeu o paralítico.

Barrois esperou portanto o regresso de Valentine e, como vimos, expôs-lhe o desejo do avô.

Em consequência desse desejo, Valentine subiu ao quarto de Noirtier quando saiu do da Sr.ª de Saint-Méran, a qual, apesar de muito agitada, acabara por sucumbir à fadiga e dormia um sono febril.

Tinham-lhe posto ao alcance da mão uma mesinha com uma garrafa de laranjada, sua bebida habitual, e um copo.

Como dissemos, a jovem deixou a marquesa para subir ao quarto de Noirtier.

Valentine beijou o velho, que a olhou tão ternamente que a jovem sentiu brotarem-lhe de novo dos olhos lágrimas cuja fonte julgava esgotada.

O velho insistia com o olhar.

- Sim, sim, queres dizer que continuo a ter um avô, não é? - traduziu Valentine.

O velho fez sinal de que efectivamente era isso que o seu olhar queria dizer.

- De contrário, que seria de mim, meu Deus?

Era uma hora da madrugada. Barrois, que também tinha vontade de se deitar. Observou que depois de uma noite tão dolorosa toda a gente precisava de repouso. O velho não quis dizer que para si o repouso era ver a neta e mandou embora Valentine, a quem efectivamente a dor e a fadiga davam um ar abatido.

No dia seguinte, quando entrou no quarto da avó, Valentine encontrou-a na cama. A febre não descera; pelo contrário, um fogo sombrio brilhava nos olhos da velha marquesa, que parecia dominada por violenta irritação nervosa.

- Oh, meu Deus, está pior avozinha?! - exclamou Valentine ao ver todos aqueles sintomas de agitação.

- Não, minha filha, não - respondeu a Sr.ª de Saint-Méran. - Mas esperava com impaciência que chegasses para mandar chamar o teu pai

- O meu pai? - perguntou Valentine, inquieta.

- Sim, quero falar com ele.

Valentine não ousou opor-se ao desejo da avó, cuja finalidade ignorava, aliás, e pouco depois Villefort entrou.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069