O Conde de Monte Cristo - Cap. 76: Os progressos de Cavalcanti filho Pág. 729 / 1080

- Não sei se será a minha amizade por ele que me cega - disse Monte-Cristo -, mas garanto-lhe que o Sr. de Morcerf é um jovem encantador, que fará a sua filha feliz e que mais tarde ou mais cedo será alguém. Porque, enfim, a posição do pai é excelente...

- Hum! - resmungou Danglars.

- Porquê essa dúvida?

- Há sempre o passado... aquele passado obscuro.

- Mas o filho não tem nada a ver com o passado do pai.

- Pois não, pois não!

- Vamos, não perca a cabeça. Há um mês, achava este casamento excelente... Compreende, a minha situação é desagradável: foi em minha casa que o senhor viu o jovem Cavalcanti, que eu nem sequer conhecia, repito-lhe.

- Conheço-o eu e isso basta - redarguiu Danglars.

- Conhece-o? Quer dizer que tirou informações dele? - perguntou Monte-Cristo.

- Acha necessário? Não se vê jogo à primeira vista com quem estamos a tratar? Em primeiro lugar, é rico...

- Não garanto.

- Então porque responde por ele?

- Cinquenta mil libras, uma miséria!...

- Tem uma excelente educação.

- Hum!... - resmungou por sua vez Monte-Cristo.

- É músico.

- Todos os italianos o são.

- Olhe, conde, o senhor não é justo com esse rapaz.

- Bom... confesso que veio com desgosto, sabendo dos seus compromissos com os Morcerfs, o rapaz vir assim meter-se de permeio e abusar da sua sorte.

Danglars desatou a rir.

- Oh, o senhor é puritano! - exclamou. - Mas estas coisas fazem-se todos os dias no mundo.

- No entanto, não pode romper assim, meu caro Sr. Danglars. Os Morcerfs contam com esse casamento.

- Contam?...

- Positivamente.

- Então, que se expliquem. O senhor deveria dizer umas palavrinhas a esse respeito ao pai, meu caro conde, visto ser tão bem recebido lá em casa.

- Eu? Onde diabo viu o senhor isso?

- No baile que eles deram, se me não engano... Então a condessa, a orgulhosa Mercédès, a desdenhosa catalã, que quase desdenha abrir a boca para dirigir a palavra aos seus mais velhos conhecimentos, não lhe deu o braço e saiu consigo para o jardim, não meteu pelas alamedas mais isoladas e não reapareceu passada apenas cerca de meia hora?...

- Ah, barão, barão!... - interveio Albert. - O senhor impede-nos de ouvir. Num melómano como o senhor, que barbaridade!

- Está bem, está bem, senhor trocista - redarguiu Danglars.

Depois, voltando-se para Monte-Cristo:

- Encarrega-se de falar ao pai?

- De boa vontade, se assim o deseja.

- Mas que desta vez as coisas sejam feitas de maneira explícita e definitiva. Sobretudo que me peça a minha filha, que marque uma data, que declare as suas condições monetárias, enfim, que nos entendamos ou desentendamos. Mas, compreende, nada de mais adiamentos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069