O Conde de Monte Cristo - Cap. 77: Haydée Pág. 733 / 1080

- Acha que ele desconfiava? - inquiriu Monte-Cristo, com encantadora ingenuidade.

- Ora essa!... Donde veio o senhor, meu caro conde?

- Do Congo, se quiser.

- Ainda não é suficientemente longe.

- Quer dizer que não conheço os maridos parisienses?

- Meu caro conde, os maridos são os mesmos em toda a parte. A partir do momento em que tenha estudado o indivíduo em qualquer país, conhece a espécie.

- Mas então por que motivo se zangaram Danglars e Debray? Pareciam entender-se tão bem... - observou Monte-Cristo, com novo assomo de ingenuidade.

- Ora aí está! Nesse caso entramos nos mistérios de ísis, e eu não sou iniciado. Quando o Sr. Cavalcanti filho for da família, pergunte-lhe isso.

A carruagem parou.

- Pronto, chegámos - disse Monte-Cristo. - São apenas dez e meia, suba.

- De boa vontade.

- A minha carruagem levá-lo á.

- Não, obrigado. O meu cupé deve ter-nos seguido.

- De facto, vem aí - confirmou Monte-Cristo, apeando-se.

Entraram ambos na casa. A sala estava iluminada e para lá se dirigiram.

- Faça-nos chá, Baptistin - ordenou Monte-Cristo.

Baptistin saiu sem abrir a boca. Passados dois segundos reapareceu com uma bandeja completamente servida e que, como as colações das mágicas, parecia saída do chão.

- Na verdade - disse Morcerf -, o que admiro no senhor, meu caro conde, não é a sua riqueza; talvez haja pessoas mais ricas do que o senhor. Nem o seu espírito; Beaumarchais não tinha mais, mas tinha tanto. É a sua maneira de ser servido, sem que lhe respondam uma palavra, num minuto, num segundo, como se o adivinhassem, a forma como pede o que deseja e como o que deseja está sempre pronto.

- O que diz é um pouco verdade. Conhecem os meus hábitos. Por exemplo, vai ver: não deseja fazer qualquer coisa enquanto bebe o seu chá?

- Bom, apetece-me fumar...

Monte-Cristo aproximou-se da campainha e tocou uma vez.

Passado um segundo, abriu-se uma porta particular e apareceu Ali com dois chíbuques cheios de excelente tabaco turco.

- É maravilhoso - confessou Morcerf.

- Mas não, é tudo simples - redarguiu Monte-Cristo. - Ali sabe que habitualmente, quando tomo chá ou café, fumo. Sabe que pedi chá, sabe que vim consigo, ouve-me chamá-lo, supõe por que motivo, e como é de um país onde a hospitalidade se exerce com o cachimbo, principalmente, em vez de um chíbuque trouxe dois.

- Claro que se trata de uma explicação como qualquer outra; mas nem por isso é menos verdade que como o senhor não existe outro... Oh, mas que estou a ouvir?! E Morcerf inclinou-se para a porta, pela qual entravam efectivamente sons correspondentes aos de uma guitarra.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069