O Conde de Monte Cristo - Cap. 78: Escrevem-nos de Janina Pág. 749 / 1080

Mas em vez de subir ao seu quarto, Valentine, logo que saiu, meteu pelo corredor, transpôs a portinha e correu para o jardim. No meio de todos os acontecimentos que acabavam de se amontoar uns sobre os outros, um terror surdo oprimira-lhe constantemente o coração. Esperava de um momento para o outro ver aparecer Morrel, pálido e ameaçador como o laird de Ravenswood no contrato de Lucie de Lammermoor.

Com efeito, era tempo de se dirigir ao portão. Maximilien, que desconfiara do que se iria passar ao ver Franz deixar o cemitério com o Sr. de Villefort, seguira-o. Em seguida, depois de o ver entrar, vira-o sair novamente e regressar com Albert e Chateau-Renaud. Para ele, não havia portanto mais dúvidas. Correra então para o seu cercado, pronto para o que desse e viesse, e certo de que no primeiro momento de liberdade que conseguisse, Valentine correria ao seu encontro.

Não se enganara; com efeito, de olho colado às tábuas, viu aparecer a jovem, que, sem tomar nenhuma das precauções habituais, corria para o portão. Ao primeiro olhar que lhe deitou, Maximilien ficou tranquilo, e à primeira palavra que ela pronunciou. saltou de alegria.

- Salvos! - disse Valentine.

- Salvos! - repetiu Morrel, sem poder acreditar em semelhante felicidade.

- Mas salvos por quem?

- Pelo meu avô. Oh, ame-o muito, Morrel!

Morrel jurou amar o velho com toda a sua alma, juramento que lhe não custava nada fazer, pois naquele momento não se limitava a amá-lo como um amigo ou como um pai, adorava-o como um deus.

- Mas como foi isso? - perguntou Morrel. - Que meio estranho empregou ele?

Valentine abria já a boca para contar tudo, mas pensou que havia no fundo de tudo aquilo um segredo terrível que não pertencia exclusivamente ao avô.

- Mais tarde contar-lhe-ei tudo - respondeu.

- Mas quando?

- Quando for sua mulher.

Era colocar a conversa num pé em que Morrel era capaz de entender tudo. Por isso, entendeu mesmo que se devia contentar com o que sabia, e que era bastante para um dia.

No entanto, só consentiu em se retirar depois de ter a promessa de que veria Valentine no dia seguinte à noite.

Valentine prometeu o que Morrel quis. A seus olhos tudo mudara, e claro que lhe era agora menos difícil acreditar que casaria com Maximilien do que convencer-se uma hora antes que não casaria com Franz.

Entretanto, a Sr.ª de Villefort subira aos aposentos deNoirtier. Noirtier olhou-a com o ar sombrio e severo com que costumava recebê-la.

- Senhor - começou ela -, escuso de lhe dizer que o casamento de Valentine foi desfeito, pois foi aqui que o rompimento se verificou.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069