O Conde de Monte Cristo - Cap. 78: Escrevem-nos de Janina Pág. 750 / 1080

Noirtier permaneceu impassível.

- Mas - continuou a Sr.ª de Villefort - o que o senhor não sabe é que sempre me opus a esse casamento, que se efectuava mal-grado meu.

Noirtier fitou a nora como homem que espera uma explicação.

- Ora, agora que o casamento, acerca do qual eu conhecia a sua repugnância, está desfeito, venho fazer junto do senhor uma diligência que nem o Sr. de Villefort nem Valentine podem fazer.

Os olhos de Noirtier perguntaram qual era essa diligência.

- Venho pedir-lhe, senhor - continuou a Sr.ª de Villefort -, como a única pessoa que tem esse direito, pois sou a única que não ganharei nada com isso venho pedir-lhe, repito, que restitua, não direi as suas boas graças, porque ela sempre as teve, mas sim a sua fortuna à sua neta.

Os olhos de Noirtier ficaram um instante indecisos; procurava evidentemente os motivos de tal diligência e não os conseguia encontrar.

- Posso esperar, senhor, que as suas intenções estejam de harmonia com o pedido que acabo de lhe fazer? - perguntou a Sr.ª de Villefort.

- Pode - respondeu Noirtier.

- Nesse caso, senhor, retiro-me ao mesmo tempo reconhecida e feliz - declarou a Srª de Villefort. E retirou-se depois de cumprimentar Noirtier.

Com efeito, no dia seguinte Noirtier mandou chamar o notário.

O primeiro testamento foi rasgado e fez-se outro novo em que ele deixava toda a sua fortuna a Valentine, com a condição de a não separarem dele.

Algumas pessoas calcularam então que Mademoiselle de Villefort, herdeira do marquês e da marquesa de Saint-Méran e reentrada nas boas graças do avô, teria um dia muito perto de trezentas mil libras de rendimento.

Enquanto o casamento se rompia em casa dos Villeforts, o Sr. Conde de Morcerf recebia a visita de Monte-Cristo, e, para mostrar a Danglars a sua prontidão, envergava o seu grande uniforme de tenente-general, que adornara com todas as suas condecorações, e pedia os seus melhores cavalos.

Assim vestido, dirigiu-se para a Rua da Chaussée-d'Antin e mandou-se anunciar a Danglars, que elaborava o seu balancete de fim de mês.

Havia algum tempo que aquele não era o momento mais indicado para apanhar o banqueiro de bom humor. Por isso, ao ver o aspecto do seu velho amigo, Danglars tomou o seu ar majestoso e instalou-se sem cerimónia na sua poltrona.

Morcerf, habitualmente tão empertigado, tomara, pelo contrário, um ar risonho e afável; e como estava quase certo de que a sua proposta ia receber um bom acolhimento, pôs de lado a diplomacia e foi direito ao assunto:

- Barão, aqui estou - disse. - Há muito tempo que giramos à volta das nossas palavras de outrora.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069