O Conde de Monte Cristo - Cap. 79: A limonada Pág. 767 / 1080

- Por toda a parte. Sinto umas cãibras insuportáveis.

- Passam-lhe coisas pela vista?

- Passam.

- Sente zumbidos nos ouvidos?

- Horríveis.

- Quando lhe deu isso?

- Há bocado.

- Rapidamente?

- Como um raio.

- Não sentiu nada ontem? Nem anteontem?

- Nada.

- Sonolência? Fadiga?

- Não.

- Que comeu hoje?

- Não comi nada. Bebi apenas um copo da limonada do senhor.

E Barrois fez com a cabeça um sinal para designar Noirtier, que, imóvel na sua cadeira, contemplava aquela cena terrível sem perder um gesto, sem deixar escapar uma palavra.

- Onde está essa limonada? - perguntou vivamente o médico.

- Na garrafa, lá em baixo.

-Lá em baixo, onde?

- Na cozinha.

- Quer que a vá buscar, doutor? - perguntou Villefort.

- Não, fique aqui e procure que o doente beba o resto desse copo de água.

- Mas a limonada...

- Eu mesmo a vou buscar.

Avrigny abriu a porta de um salto, correu para a escada de serviço e quase derrubou a Sr.ª de Villefort, que também descia à cozinha.

Ela deu um grito.

Avrigny nem sequer lhe prestou atenção. Levado por uma única ideia, saltou os três ou quatro últimos degraus, precipitou-se na cozinha e viu a garrafa, três quartos vazia, numa bandeja.

Caiu sobre ela como uma águia sobre a presa.

Subiu arquejante ao rés-do-chão e reentrou no quarto.

A Sr.ª de Villefort subia lentamente a escada que levava aos seus aposentos.

- Era esta a garrafa que estava aqui? - perguntou Avrigny.

- Era, sim, Sr. Doutor.

- Esta limonada é a mesma que bebeu?

- Creio que sim.

- Que gosto lhe achou?

- Um gosto amargo.

O médico deitou algumas gotas de limonada no côncavo da mão, aspirou-as com os lábios e, depois de bochechar como se faz com o vinho quando se quer provar, cuspiu o líquido para a chaminé

- É de facto a mesma - disse. - Também bebeu, Sr. Noirtier?

- Bebi - respondeu o velho.

- E encontrou-lhe o mesmo gosto amargo?

- Encontrei

- Ah, Sr. Doutor! - gritou Barrois. - Isto está a voltar! Meu Deus, Senhor, tende piedade de mim! O médico correu para o doente.

- O vomitório, Villefort. Veja se ele vem.

Villefort correu para fora, gritando:

- O vomitório! O vomitório! Já o foram buscar?

Ninguém respondeu. Reinava na casa o terror mais profundo.

- Se tivesse maneira de lhe insuflar ar nos pulmões - disse Avrigny olhando à sua volta -, talvez tivesse possibilidade de evitar a asfixia. Mas não, nada, nada!

- Oh, senhor, vai deixar-me morrer assim sem socorro?! - gritava Barrois.

- Oh, eu morro, meu Deus! Eu morro!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069