O Conde de Monte Cristo - Cap. 79: A limonada Pág. 768 / 1080

- Uma pena! Uma pena! - pediu o médico.

Viu uma em cima da mesa.

Procurou introduzir a pena na boca do doente, que fazia, nomeio das suas convulsões, esforços inúteis para vomitar. Mas os maxilares estavam de tal forma apertados que a pena não pôde passar.

Barrois passava por um ataque nervoso ainda mais intenso do que o primeiro.

Escorregara do canapé para o chão e retesava-se no parque.

O médico deixou-o entregue ao novo acesso, para o qual não dispunha de qualquer alívio, e aproximou-se de Noirtier.

- Como se sente? - perguntou-lhe precipitadamente e em voz baixa. - Bem?

- Sim.

- Leve de estômago ou pesado? Leve?

- Sim.

- Como quando toma a pílula que lhe mando dar todos os domingos?

- Sim.

- Foi Barrois quem fez a sua limonada?

- Foi

- Foi o senhor que o convidou a bebê-la?

- Não.

- Foi o Sr. de Villefort?

- Não.

- A senhora?

- Não.

- Então foi Valentine?

- Foi.

Um suspiro de Barrois, um bocejo que lhe fez estalar os ossos do maxilar, chamaram a atenção de Avrigny, que deixou o Sr. Noirtier e correu para junto do doente.

- Barrois, pode falar? - perguntou-lhe o médico.

Barrois balbuciou algumas palavras ininteligíveis.

- Faça um esforço, meu amigo.

Barrois abriu os olhos injectados de sangue.

- Quem fez a limonada?

- Eu.

- Trouxe-a ao seu patrão assim que a fez?

- Não.

- Deixou-a nalgum lado, então?

- Na copa. Chamavam-me.

- Quem a trouxe para aqui?

- Mademoiselle Valentine.

Avrigny bateu na testa.

- Oh, meu Deus, meu Deus! - murmurou.

- Doutor! Doutor! - gritou Barrois, que sentia vir terceiro acesso.

- Mas nunca mais trazem esse vomitório?! - gritou o médico.

- Aqui está um copo preparado - disse Villefort entrando.

- Por quem?

- Pelo ajudante de farmacêutico, que veio comigo.

- Beba.

- Impossível, doutor, é demasiado tarde! Sinto a garganta apertada sufoco! Ai o meu coração! Ai a minha cabeça! Oh, que inferno! Ainda terei de sofrer muito tempo assim?

- Não, não, meu amigo - tranquilizou-o o médico. - Em breve deixará de sofrer.

- Ah, compreendo! - gritou o infeliz. - Meu Deus, tende piedade de mim.

E, soltando um grito, caiu para trás como que fulminado.

Avrigny pôs-lhe a mão no coração e aproximou-lhe um espelho dos lábios.

- Então? - perguntou Villefort.

- Vá dizer à cozinha que me tragam sem demora xarope de violetas.

Villefort desceu imediatamente.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069