O Conde de Monte Cristo - Cap. 81: O quarto do padeiro reformado Pág. 779 / 1080

- Não. Queria falar com V. Ex.a. Respondi-lhe que o senhor tinha saído. Insistiu. Mas por fim pareceu deixar-se convencer e deu-me esta carta, que já trazia fechada.

- Vejamos... - murmurou Andrea.

E leu à luz da lanterna do fáeton: «Sabes onde moro. Espero-te amanhã às nove horas da manhã.»

Andrea examinou o lacre para ver se a carta não fora violada e se olhares indiscretos não tinham tomado conhecimento do seu conteúdo. Mas ela estava dobrada de tal forma, com tal abundância de ângulos e losangos, que para a ler seria necessário quebrar o lacre. Ora o lacre estava perfeitamente intacto.

- Muito bem - disse. - Pobre homem! É uma excelente criatura.

E deixou o porteiro edificado com estas palavras e sem saber quem mais devia admirar, se o jovem amo ou o velho criado.

- Desatrela depressa e sobe ao meu quarto - ordenou Andrea ao seu groom.

Em dois saltos, o jovem chegou ao quarto e queimou a carta de Caderousse, de que fez desaparecer até as cinzas.

Terminava essa operação quando o criado entrou.

- És da mesma estatura que eu, Pierre - disse-lhe.

- Tenho essa honra, Excelência - respondeu o criado.

- Deves ter uma libré nova que te trouxeram ontem, não tens?

- Tenho, sim, Excelência.

- Tenho um encontro com uma costureirinha, a quem não quero revelar nem o meu título nem a minha condição. Empresta-me a tua libré e os teus documentos, para que possa, se for necessário, dormir numa estalagem.

Pierre obedeceu.

Cinco minutos mais tarde, Andrea, completamente disfarçado, saía do hotel sem ser reconhecido, tomava um cabriolé e fazia-se conduzir à Estalagem do Cavalo Vermelho, em Picpus.

No dia seguinte, saiu da Estalagem do Cavalo Vermelho como saíra do Hotel dos Príncipes, isto é, sem ser notado, desceu o Arrabalde de Santo António, meteu pelo bulevar até à Rua de Ménilmontant, parou à porta da terceira casa à esquerda e, na ausência do porteiro, procurou quem lhe pudesse dar informações.

- Quem procuras, meu lindo menino? - perguntou-lhe a vendedeira de fruta defronte.

- O Sr. Pailletin, por favor, tiazinha - respondeu Andrea.

- Um padeiro reformado? - perguntou a vendedeira.

- Exactamente.

- Ao fundo do pátio, à esquerda, no terceiro andar.

Andrea seguiu o caminho indicado, e no terceiro andar encontrou uma «pata de lebre», que agitou com um sentimento de mau humor, de cujo movimento precipitado a campainha se ressentiu.

Passado um segundo, a cara de Caderousse apareceu no ralo praticado na porta.

- Ah, és pontual! - observou, e correu os ferrolhos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069