Talvez o barão a tivesse notado, mas como só podia atribuir tal repulsa a um capricho, fingira nada perceber.
Entretanto, o prazo pedido por Beauchamp estava quase esgotado. Aliás, Morcerf pudera apreciar o valor do conselho de Monte-Cristo quando este lhe dissera que deixasse cair as coisas por si mesmas. De facto, ninguém chamara a atenção para a notícia sobre o general nem ninguém relacionara o oficial que entregara o castelo de Janina com o nobre conde que tinha assento na Câmara dos Pares.
No entanto, Albert nem por isso se considerava menos insultado, pois a intenção da ofensa existia certamente nas poucas linhas que o tinham ferido. Além disso, a forma como Beauchamp terminara a conversa deixara uma recordação amarga no seu coração. Acarinhava portanto no espírito a ideia do duelo, cuja causa esperava, se Beauchamp se prestasse a isso, ocultar mesmo às suas testemunhas. Pelo menos a causa real.
Quanto a Beauchamp, ninguém mais o vira desde o dia da visita que Albert lhe fizera; e a todos aqueles que o procuravam respondiam que se ausentara numa viagem de alguns dias.
Aonde fora? Ninguém sabia nada a tal respeito.
Uma manhã, Albert foi acordado pelo seu criado de quarto, que lhe anunciava Beauchamp. Albert esfregou os olhos, ordenou que mandassem esperar Beauchamp na salinha de fumo do rés-do-chão, vestiu-se rapidamente e desceu.
Encontrou Beauchamp a passear de um lado para o outro. Ao vê-lo, Beauchamp parou.
- O passo que dá, apresentando-se pessoalmente em minha casa e sem esperar a visita que tencionava fazer-lhe hoje mesmo, parece-me um bom augúrio, senhor - disse Albert. - Vamos, diga depressa, devo estender-lhe a mão e perguntar-lhe: «Beauchamp, quer dar a mão à palmatória e conservar um amigo?» Ou perguntar-lhe apenas: «Quais são as suas armas?»
- Albert - respondeu Beauchamp com uma tristeza que deixou o jovem espantado -, sentemo-nos primeiro e conversemos.
- Parece-me, pelo contrário, senhor, que antes de nos sentarmos me deve responder.
- Albert - insistiu o jornalista -, há circunstâncias em que a dificuldade reside precisamente na resposta.
- Vou torná-la fácil, senhor, repetindo-lhe a pergunta: quer retractar-se, sim ou não?
- Morcerf, ninguém se limita a responder sim ou não às perguntas que dizem respeito à honra, à posição social e à vida de um homem como o Sr. Tenente-General Conde de Morcerf, par de França.