O Conde de Monte Cristo - Cap. 87: A provocação Pág. 838 / 1080

- Eu não acuso ninguém, senhor - redarguiu Danglars conto como as coisas se passaram e repetirei diante do Sr. Conde de Monte-Cristo o que acabo de dizer diante dos senhores.

- E o conde sabe que resposta recebeu?

- Mostrei-lha.

- Sabia que o nome de baptismo do meu pai era Fernand e que o seu nome de família era Mondego?

- Sabia, eu tinha-lho dito havia muito tempo. Quanto ao mais, não fiz nesse caso senão o que qualquer outro faria, e até talvez muito menos. Quando, no dia seguinte a receber a resposta, impelido pelo Sr. Conde de Monte-Cristo, o seu pai me veio pedir a minha filha oficialmente, recusei, como se faz quando se quer acabar com as coisas de vez, recusei redondamente, é verdade, mas sem explicações, sem escândalo. Com efeito, para que faria eu um escândalo? Em que medida a honra ou a desonra do Sr. de Morcerf me interessava? Não seria por isso que a taxa de juro subiria ou desceria...

Albert sentiu o rubor subir-lhe à testa. Não havia dúvida: Danglars defendia-se com baixeza, mas também com a segurança de um homem que diz, se não toda a verdade, pelo menos parte da verdade, não por consciência, é certo, mas sim por terror.

Aliás, que procurava Morcerf? Não era a mais ou menos culpabilidade de Danglars ou de Monte-Cristo, era um homem que respondesse por uma ofensa ligeira ou grave, era um homem que se batesse, e era evidente que Danglars não se bateria.

E depois, todas as coisas esquecidas ou despercebidas se tornavam agora visíveis a seus olhos ou presentes na sua memória. Monte-Cristo sabia tudo pois fora ele que comprara a filha de Ali-Paxá. Ora, sabendo tudo, aconselhara Danglars a escrever para Janina. Conhecida a resposta, acedera ao desejo manifestado por Albert para ser apresentado a Haydée. Uma vez diante dela, deixara a conversa derivar para a morte de Ali, sem se opor à narrativa de Haydée, mas tendo sem dúvida dado à jovem, nalgumas palavras romaicas que pronunciara, instruções que não tinham permitido a Morcerf reconhecer o pai. De resto, não pedira ele a Morcerf que não proferisse o nome do pai diante de Haydée? Por fim, levara Albert para a Normandia no momento em que sabia que o grande escândalo ia rebentar. Não havia dúvida a tal respeito: tudo aquilo fora calculado e sem dúvida nenhuma Monte-Cristo era conivente dos inimigos do conde de Morcerf.

Albert levou Beauchamp para um canto e comunicou-lhe todas estas deduções.

- Tem razão - concordou o jornalista. - O Sr. Danglars só tem a ver com o sucedido no tocante à parte brutal e material; é a Monte-Cristo que deve pedir uma explicação.

Albert virou-se.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069