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Capítulo 89: A Noite

Página 852
Que podia fazer por si, Edmond, senão rezar e chorar? Ouça-me: durante dez anos tive todas as noites o mesmo sonho. Disseram que tinha fugido, que tomara o lugar de um prisioneiro, que se metera na mortalha de um morto e que tinham lançado o cadáver vivo do alto do Castelo de If. E que o grito que soltara ao esmagar-se nos rochedos fora a única coisa que revelara a substituição aos seus coveiros, transformados em carrascos. Pois bem, Edmond, juro-lhe pela cabeça do filho por quem imploro que durante dez anos vi todas as noites homens balançarem qualquer coisa informe e desconhecida no alto de um rochedo, durante dez anos ouvi todas as noites um grito terrível que me acordou tiritante e gelada. E também eu, Edmond, acredite-me, por mais criminosa que fosse... oh, sim, também eu sofri muito!

- Sentiu morrer o seu pai na sua ausência? – perguntou Monte-Cristo metendo as mãos nos cabelos. - Viu a mulher que amava estender a mão ao rival, enquanto arquejava no fundo do abismo?...

- Não! - interrompeu-o Mercédès. - Mas vi aquele que amava prestes a tornar-se o assassino do meu filho!

Mercédès proferiu estas palavras com uma dor tão pungente, num tom tão desesperado, que um soluço dilacerou a garganta do conde ao ouvi-la.

O leão estava domado, o vingador estava vencido.

- Que deseja? - perguntou. - Que o seu filho viva? Pois bem, viverá!

Mercédès soltou um grito que fez brotar duas lágrimas dos olhos de Monte-Cristo, mas essas duas lágrimas desapareceram quase imediatamente, pois sem dúvida Deus enviou algum anjo para as recolher, visto serem muito mais preciosas aos olhos do Senhor do que as mais ricas pérolas de Guzarate e Ofir.

- Obrigada, obrigada, Edmond! - exclamou ela, pegando na mão do conde e levando-a aos lábios. - Agora, sim, és bem como sempre te sonhei, como sempre te amei! Oh, agora posso dizê-lo!

- Tanto melhor - redarguiu Monte-Cristo -, pois o pobre Edmond não terá muito tempo para ser amado pela senhora. A morte vai regressar ao túmulo, o fantasma vai desaparecer na noite.

- Que diz, Edmond?

- Digo que, já que assim o ordena, Mercédès, tenho de morrer.

- Morrer?... E quem é que disse isso? Quem fala em morrer? Donde lhe vêm essas ideias de morte?

- Decerto não supõe que, ultrajado publicamente diante de toda uma sala, na presença dos seus amigos e dos amigos do seu filho, provocado por uma criança que se vangloriará do meu perdão como de uma vitória... não supõe, decerto, repito, que eu tenha um instante o desejo de viver? O que mais amo depois de si, Mercédès, é a minha própria pessoa, isto é, a minha dignidade, essa força que me tornava superior aos outros homens.

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pág. 852 (Capítulo 89)

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 852

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069