O Conde de Monte Cristo - Cap. 90: O duelo Pág. 860 / 1080

- O que aconteceu a Bruto na véspera da batalha de Filipos: vi um fantasma.

- E esse fantasma?...

- Esse fantasma, Morrel, disse-me que já vivera o suficiente.

Maximilien e Emmanuel entreolharam-se. Monte-Cristo puxou do relógio.

- Vamos. São sete e cinco e o encontro está marcado para as oito horas exactas.

Esperava-os uma carruagem atrelada. Monte-Cristo subiu para ela com as suas duas testemunhas.

Ao atravessarem o corredor, Monte-Cristo detivera-se a escutar diante de uma porta, e Maximilien e Emmanuel, que por discrição, tinham dado alguns passos em frente, julgaram ouvir responder a um soluço com um suspiro.

Ao bater das oito chegaram ao local do duelo.

- Cá estamos - disse Morrel, deitando a cabeça fora da portinhola -, e somos os primeiros.

- Desculpe, senhor - interveio Baptistin, que acompanhara o amo com um terror indizível -, mas creio ver lá adiante uma carruagem debaixo das árvores.

- De facto - disse Emmanuel -, vejo dois rapazes que passeiam e parecem esperar.

Monte-Cristo saltou agilmente da caleça e deu a mão a Emmanuel e Maximilien para os ajudar a descer.

Maximilien reteve a mão do conde nas suas.

- Aqui está uma mão como gosto de ver num homem cuja vida assenta na bondade da sua causa...

Monte-Cristo puxou Morrel, não à parte, mas um passo ou dois atrás do cunhado.

- Maximilien, tem o coração livre? - perguntou-lhe.

Morrel olhou Monte-Cristo com surpresa.

- Não lhe peço uma confidência, caro amigo, faço-lhe uma simples pergunta. Responda sim ou não, é tudo o que desejo.

- Amo uma jovem, conde.

- E ama-a muito?

- Mais do que a vida.

- Bom, mais uma esperança que me foge... - declarou Monte-Cristo.

Depois, com um suspiro:

- Pobre Haydée! - murmurou.

- Na verdade, conde, se o conhecesse pior, julgá-lo-ia menos corajoso do que é! - observou Morrel.

- Porque penso em alguém que vou deixar e suspiro? Então, Morrel, acha próprio de um soldado conhecer tão mal a coragem? Julga que tenho pena de perder a vida? Que importância tem isso para mim, que passei vinte anos entre a vida e a morte? Aliás, esteja tranquilo, Morrel: esta fraqueza, se porventura o é, é apenas manifestada diante de si. Sei que o mundo é um salão donde é preciso sair delicada e respeitavelmente, isto é, depois de nos despedirmos e pagarmos as nossas dívidas de jogo.

- Sempre tem cada uma! - comentou Morrel. - A propósito, trouxe as suas armas?

- Eu? Para quê? Espero que esses senhores tenham trazido as deles.

- Vou-me informar - disse Morrel.

- Está bem, mas nada de negociações, ouviu?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069