No momento em que o fiacre parou diante da porta e Albert se preparava para descer aproximou-se dele um homem, que lhe entregou uma carta.
Albert reconheceu o intendente.
- Do conde - disse Bertuccio.
Albert pegou na carta, abriu-a e leu-a.
Depois de a ler procurou com os olhos Bertuccio, mas enquanto o jovem lia a carta, Bertuccio desaparecera.
Então Albert, com as lágrimas nos olhos e o peito cheio de emoção, reentrou nos aposentos de Mercédès e, sem pronunciar uma palavra, estendeu-lhe a carta.
Mercédès leu:
Albert:
Mostrando-lhe que adivinhei o projecto que se prepara para pôr em prática, creio mostrar-lhe também que compreendo a sua dificuldade. Está livre, deixa o palácio do conde e leva consigo a sua mãe, livre como o senhor. Mas, pense nisto, Albert: o senhor deve-lhe mais do que lhe pode pagar, pobre nobre coração que é. Guarde para si a luta, reclame para si o sofrimento, mas poupe-a à miséria inicial que acompanhará inevitavelmente os seus primeiros esforços. Porque ela não merece sequer a sombra da desgraça que hoje a atinge e a Providência não quer que o inocente pague pelo culpado.
Sei que vão ambos deixar a casa da Rua do Helder sem levar nada Como o soube, não procure descobrir. Sei-o e é quanto basta.
Ouça, Albert:
Há vinte e quatro anos regressava muito contente e orgulhoso à minha pátria. Tinha uma noiva, Albert, uma santa rapariga que adorava, e trazia à minha noiva cento e cinquenta luíses amealhados penosamente à custa de um trabalho sem descanso.
Esse dinheiro era para ela, destinava-lho, e sabendo como o mar é pérfido, enterrara o nosso tesouro no jardinzinho da casa que o meu pai habitava em Marselha, nas Alamedas de Meilhan. A sua mãe, Albert, conhece bem essa pobre e querida casa.
Recentemente, ao regressar a Paris, passei por Marselha e fui ver essa casa de dolorosas recordações. E uma noite, de enxada na mão, sondei o canto onde enterrara o meu tesouro. A caixa de ferro estava ainda no mesmo lugar; ninguém lhe tocara; está no canto que uma bonita figueira, plantada por meu pai no dia do meu nascimento, cobre com a sua sombra.