O Conde de Monte Cristo - Cap. 93: Valentine Pág. 879 / 1080

Capítulo XCIII – Valentine

O leitor já adivinhou aonde é que Morrel tinha de ir e em casa de quem era o seu encontro.

Sim, logo que deixou Monte-Cristo, Morrel dirigiu-se para casa de Villefort, caminhando lentamente.

Dizemos lentamente porque Morrel dispunha de mais de meia hora para percorrer quinhentos passos. Mas, apesar de ter tempo mais do que suficiente, apressara-se a deixar Monte-Cristo, pois tinha pressa de ficar só com os seus pensamentos.

Sabia bem qual era a sua hora, aquela em que Valentine assistia ao pequeno-almoço de Noirtier e estava certa de não ser perturbada no seu piedoso dever. Noirtier e Valentine tinham-lhe concedido duas visitas por semana e ele vinha gozar desse direito.

Quando chegou, Valentine já o esperava. Inquieta, quase desorientada, pegou-lhe na mão e levou-o à presença do avô.

Tal inquietação, levada, como dizemos, quase até à desorientação, provinha do barulho que a aventura de Morcerf produzira na sociedade. Sabia-se (na sociedade sabe-se tudo) do escândalo da ópera. Em casa de Villefort ninguém duvidava que um duelo fosse a consequência forçada desse escândalo. Com. o seu instinto de mulher, Valentine adivinhara que Morrel seria testemunha de Monte-Cristo e, devido à coragem bem conhecida do jovem e à profunda amizade que ela lhe conhecia pelo conde, receava que ele se não limitasse ao papel passivo que lhe competia.

Compreende-se, pois, com que avidez os pormenores da aventura foram pedidos, dados e recebidos, e Morrel pôde ler uma alegria indizível nos olhos da sua bem-amada quando ela soube que o terrível caso tivera um desfecho não menos feliz do que inesperado.

- Agora - disse Valentine, fazendo sinal a Morrel para se sentar ao lado do velho e sentando-se ela mesma no banco onde repousavam os pés do avô -, agora falemos um bocadinho das nossas coisas. Como sabe, Maximilien, o avozinho teve por momentos a ideia de deixar esta casa e alugar um apartamento fora do palácio do Sr. de Villefort...

- Sim, claro - respondeu Maximilien. - Recordo-me desse projecto e de o ter até aplaudido muito.

- Pois então - disse Valentine - aplauda-o novamente, Maximilien porque o avozinho voltou à sua ideia.

- Bravo! - exclamou Maximilien.

- E sabe que razão dá o avozinho para deixar esta casa? - perguntou Valentine.

Noirtier olhava a neta para lhe impor silêncio com a vista, mas Valentine não olhava para Noirtier; os seus olhos e o seu sorriso eram para Morrel.

- Oh, seja qual for a razão que dê o Sr. Noirtier, declaro-a boa! - exclamou Morrel.

- Óptimo - disse Valentine. - Ele pretende que o ar do Arrabalde Saint-Honoré não é bom para mim.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069