O Conde de Monte Cristo - Cap. 97: A estrada da Bélgica Pág. 916 / 1080

Acto contínuo, Louise esgueirou-se como uma cobra pela porta entreaberta e saltou agilmente para fora. Eugénie, aparentemente calma, embora, segundo todas as probabilidades, o seu coração desse mais pulsações do que no seu estado habitual, saiu por sua vez.

Um moço de fretes que passava naquele momento prontificou-se a carregar com a mala depois de as duas jovens lhe indicarem que iam para a Rua da Vitória, número 36.

Seguiram o homem, cuja presença tranquilizava Louise; quanto a Eugénie, era forte como uma Judite ou uma Dalila.

Chegaram ao número indicado. Eugénie ordenou ao moço de fretes que pusesse a mala no chão, deu-lhe algumas moedas e, depois de bater no postigo, mandou-o embora.

O postigo a que batia Eugénie era o de uma roupeira prevenida antecipadamente. Não estava ainda deitada e abriu.

- Menina, diga ao porteiro que tire a caleça da cocheira e quevá buscar os cavalos à estação de posta - ordenou Eugénie. - Aqui estão cinco francos pelo trabalho.

- Na verdade, admiro-te e quase diria que te respeito - confessou Louise.

A roupeira olhava, atónita. Mas como estava combinado que receberia vinte luíses, não fez qualquer observação.

Passado um quarto de hora, o porteiro voltava com o postilhão e os cavalos, que num abrir e fechar de olhos foram atrelados à carruagem, na qual o porteiro prendeu a mala com uma corda e um torniquete.

- Aqui está o passaporte - disse o postilhão. - Que estrada tomamos, meu jovem burguês?

- A estrada de Fontainebleau - respondeu Eugénie, numa voz quase masculina.

- Que estás a dizer? - perguntou Louise, surpreendida.

- É para despistar - respondeu Eugénie. - A mulher a quem demos vinte luíses pode atraiçoar-nos por quarenta. No bulevar tomaremos outra direcção.

E a jovem saltou para a brisca, transformada em excelente sege de viagem, sem quase tocar no estribo.

- Tens sempre razão, Eugénie - disse a professora de canto, instalando-se junto da amiga.

Um quarto de hora mais tarde, o postilhão, posto no caminho correcto, transpunha, fazendo estalar o chicote, o portão da Barreira Saint-Martin.

- Ah! - exclamou Louise, respirando. - Até que enfim saímos de Paris!

- Sim, minha querida, e o rapto está realmente consumado respondeu Eugénie.

- Sim, mas sem violência - observou Louise.

- Farei valer isso como circunstância atenuante - declarou Eugénie.

Estas palavras perderam-se no meio do barulho que fazia a carruagem rodando no calcetamento da Villette.

O Sr. Danglars já não tinha filha.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069