O Conde de Monte Cristo - Cap. 98: A estalagem do sino e da garrafa Pág. 917 / 1080

Capítulo XCVIII - A estalagem do sino e da garrafa

E agora deixemos Mademoiselle Danglars e a amiga rodar pela estrada de Bruxelas e voltemos ao pobre Andrea Cavalcanti, tão malfadadamente detido no caminho da fortuna.

Apesar da sua idade ainda pouco avançada, o Sr. Andrea Cavalcanti era um rapaz muito hábil e inteligente.

Por isso, vimo-lo, aos primeiros rumores que penetraram no salão, aproximar-se gradualmente da porta, atravessar uma ou duas salas e por fim desaparecer.

Uma das circunstâncias que nos esquecemos de mencionar, e que, no entanto, não deve ser omitida, é que numa das duas salas atravessadas por Cavalcanti se encontrava exposta a corbelha da noiva, constituída por diamantes, xailes de caxemira, rendas de Valenciennes, véus de Inglaterra... por tudo o que compõe, enfim, esse acervo de objectos tentadores cujo nome basta para fazer pular de alegria o coração das jovens e que se chama enxoval.

Ora, ao passar por essa sala, Andrea - o que prova que era não só rapaz muito inteligente e hábil, mas também previdente - apoderou-se do mais rico de todos os adereços expostos.

Munido desse viático, Andrea sentira-se metade mais leve para saltar pela janela e esgueirar-se por entre as mãos dos gendarmes.

Alto e esbelto como um lutador antigo, musculoso como um espartano, Andrea empreendera uma corrida de um quarto de hora, sem saber para onde ia, apenas com o fito de se afastar do local onde estivera quase a ser preso.

Partido da Rua do Mont-Blanc, encontrara-se, com esse instinto das barreiras que os ladrões possuem, tal como a lebre o da toca, ao fundo da Rua Lafayette.

Aí, sufocado, arquejante, parou.

Estava absolutamente só e tinha à esquerda a tapada de Saint-Lazare, um vasto deserto, e à direita, Paris em toda a sua profundidade.

- Estarei perdido? - perguntou a si mesmo. - Não, se puder desenvolver uma soma de actividade superior à dos meus inimigos. A minha salvação não passa, portanto, muito simplesmente de uma questão de miriâmetros.

Neste momento viu, vindo do alto do Arrabalde Poissonoière, um cabriolé de praça cujo cocheiro, abatido e fumando o seu cachimbo, parecia querer regressar às extremidades do Arrabalde Saint-Denis, onde sem dúvida estacionava habitualmente.

- Eh, amigo! - chamou-o Benedetto.

- Que deseja o nosso burguês? - perguntou o cocheiro.

- O seu cavalo está cansado?

- Cansado? Pois bem!... Não fez nada todo o santo dia. Quatro péssimas corridas e vinte soldos de gorjeta; sete francos ao todo e tenho de entregar dez ao patrão!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069