O Conde de Monte Cristo - Cap. 13: Os Cem Dias Pág. 92 / 1080

Aliás, conheço o pobre rapaz há dez anos e tenho-o ao meu serviço há quatro. Vim há seis semanas - recorda-se? - pedir-lhe que fosse clemente, como venho hoje pedir-lhe que seja justo com o pobre rapaz. Por sinal o senhor recebeu-me bastante mal e respondeu-me desabridamente. Oh, como os monárquicos eram duros nesse tempo para com os bonapartistas!

- Senhor - respondeu Villefort, aparando o golpe com a sua presteza e o seu sangue-frio habituais -, fui monárquico enquanto julguei os Bourbons não só os herdeiros legítimos do trono, mas também os eleitos da nação. Mas o regresso miraculoso de que acabamos de ser testemunhas provou-me que me enganava. O génio de Napoleão venceu: o monarca legítimo é o monarca amado.

- Não imagina o prazer que me dá ouvi-lo falar assim! - exclamou Morrel com a sua ingénua franqueza. - Agora já não temo pela sorte de Edmond.

- Espere - prosseguiu Villefort, folheando outro registo. - Já me lembro: era um marinheiro, não era, e ia casar com uma catalã? Sim, sim... Oh, agora me recordo! O caso era muito grave...

- Como assim?

- Como sabe, depois de sair de minha casa foi conduzido às prisões do Palácio da Justiça.

- Sim, e depois?

- Depois... fiz o meu relatório para Paris e enviei os documentos encontrados em seu poder. Era o meu dever, compreende... E oito dias depois da sua prisão o prisioneiro desapareceu.

- Desapareceu! - exclamou Morrel. - Que terão feito do pobre rapaz?

- Oh, sossegue! Deve ter sido levado para Fenestrelles, para Pignerol ou para as ilhas de Santa Margarida, o que se chama desterrado em termos administrativos, e um belo dia vê-lo-á aparecer para reassumir o comando do seu navio.

- Venha quando vier, o lugar está-lhe guardado. Mas porque não voltou já? Parece-me que o primeiro cuidado da justiça bonapartista deveria ser pôr em liberdade os que foram encarcerados pela justiça monárquica.

- Não acuse precipitadamente, meu caro Sr. Morrel - atalhou Villefort. - Em todas as coisas é preciso proceder legalmente. A ordem de encarceramento veio de cima, é portanto também de cima que deve vir a ordem de libertação. Ora, Napoleão regressou apenas há quinze dias; logo, as cartas de abolição ainda mal tiveram tempo de ser expedidas.

- Mas - perguntou Morrel - não há meio de apressar as formalidades, agora que triunfámos? Tenho alguns amigos, alguma influência; posso obter a anulação do mandado de captura.

- Não houve mandado de captura.

- Do registo, então.

- Em matéria política, não há registo de presos. às vezes, os governos têm interesse em fazer desaparecer um homem sem que deixe vestígios da sua passagem. Mandados e registos guiariam as buscas.

- No tempo dos Bourbons talvez fosse assim, mas agora...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069