O Conde de Monte Cristo - Cap. 13: Os Cem Dias Pág. 93 / 1080

- É assim em todos os tempos, meu caro Sr. Morrel. Os governos seguem-se e assemelham-se. A máquina penitenciária montada no reinado de Luís XIV ainda hoje funciona, exceptuando a Bastilha. O imperador tem sido sempre mais rigoroso com o regulamento das suas prisões do que foi o próprio grande rei, e o número de encarcerados de que não há vestígios nos registos é incalculável.

Tanta benevolência teria até desfeito certezas, e Morrel nem sequer tinha suspeitas.

- Mas então, Sr. de Villefort, que conselho me daria para abreviar o regresso do pobre Dantès?

- Apenas um, senhor: faça uma petição ao ministro da justiça.

- Oh, senhor, todos nós sabemos o que acontece às petições!... O ministro recebe duzentas por dia e nem sequer lê quatro.

- Sim - admitiu Villefort -, mas lerá uma petição enviada por mim, informada por mim, recomendada directamente por mim.

- E o senhor encarregar-se-ia de fazer chegar essa petição?

- Com o maior prazer. Dantès podia ser culpado então, mas hoje está inocente e tenho o dever de fazer restituir a liberdade àquele que foi meu dever meter na prisão.

Villefort, precavia-se assim do perigo de um inquérito pouco provável, mas possível, um inquérito que o perderia irremediavelmente.

- Mas como se escreve ao ministro?

- Sente-se aqui, Sr. Morrel - disse Villefort, cedendo o seu lugar ao armador. - Vou-lhe ditar.

- Terá essa bondade?

- Sem dúvida. Não percamos tempo. Já perdemos demasiado.

- Sim, senhor. Lembremo-nos que o pobre rapaz espera, sofre e desespera talvez.

Villefort estremeceu à ideia daquele prisioneiro amaldiçoando-o no silêncio e nas trevas. Mas fora já demasiado longe para recuar. Dantès devia ser esmagado pelas engrenagens da sua ambição.

- Pronto, senhor - disse o armador, sentado na poltrona de Villefort com uma pena na mão.

Villefort ditou então uma petição em que, como nada tinha a recear, exagerava o patriotismo de Dantès e os serviços por ele prestados à causa bonapartista. Nessa petição, Dantès era transformado num dos agentes mais activos do regresso de Napoleão. Era evidente que, ao ver semelhante documento, o ministro se apressaria a fazer imediatamente justiça, se justiça ainda não fora feita.

Terminada a petição, Villefort releu-a em voz alta.

- É isto mesmo. E agora confie em mim.

- E a petição partirá brevemente, senhor?

- Hoje mesmo.

- Informada por si?

- A melhor informação que posso dar, senhor, é certificar veracidade de tudo o que diz na petição.

E Villefort sentou-se por seu turno e escreveu num canto dapetição o seu certificado.

- E agora, senhor, que mais é preciso fazer? - perguntou Morrel.

- Esperar - respondeu Villefort. - Respondo por tudo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069